Partido dos Trabalhadores

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domingo, 26 de junho de 2016

O DEUS-DINHEIRO, O IMPEACHMENT E A VOLTA DA CAÇA ÀS BRUXAS




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As novas ações midiáticas patrocinadas pela juristocracia tupiniquim (desta vez tendo à frente um pupilo da tresloucada autora do pedido de impeachment), recolocam no debate a questão acerca dos maiores interessados no golpe, esse estupro à democracia brasileira. Cada vez fica mais claro que, para além dos pastelões, corruptos e fanfarrões que abundam no Congresso e no governo interino, os verdadeiros interessados no imediato retorno de nosso país à velha categoria das repúblicas das bananas são os ricos e poderosos. Por isso, é fundamental entendermos o que está por detrás do jogo jogado do impeachment fajuto.
Giorgio Agamben, um dos principais intelectuais contemporâneos, professor em diversas universidades europeias e norte-americanas explicou, em entrevista recente (leia na íntegra, aqui), como funciona a atual fase do capitalismo (concentrador de riqueza, fundamentalmente rentista e excludente, que move todos os interesses, inclusive a determinar os rumos da política e da vida das pessoas). Agamben foi definido pelo Times e pelo Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Sua obra, influenciada por Michel Foucault e Hannah Arendt, centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política.
Quando lemos com atenção algumas considerações de Agamben sobre a democracia, por exemplo, entendemos com mais clareza o que está por detrás de afrontas à cidadania em várias partes do mundo, como o golpe em curso no país. Para ele, “a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governabilidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas”.
Para manter um empreendimento dito democrático e que, paradoxalmente, produz imensa concentração de renda e riqueza nas mãos do 1% mais ricos em detrimento à dignidade da absoluta maioria das pessoas, o capitalismo, atualmente, sobrevive da fabricação de crises: “Crise e economia atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. “Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer! ”. 
Neste sentido, explica Agamben, “é preciso tomar ao pé da letra a ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou dinheiro. ”
Nos dizeres do professor Ladislau Dowbor, "a expansão dos lobbies, a compra dos políticos, a invasão do judiciário, o controle dos sistemas de informação da sociedade e a manipulação do ensino acadêmico representam alguns dos instrumentos mais importantes da captura do poder político geral pelas grandes corporações. Mas o conjunto destes instrumentos leva em última instância a um mecanismo mais poderoso que os articula e lhe confere caráter sistêmico: a apropriação dos próprios resultados da atividade econômica, por meio do controle financeiro em pouquíssimas mãos." 
Ademais, a associação entre os grandes oligopólios do capitalismo internacional com a manipulação da mídia, serviçal desses grupos, naturaliza todo o tipo de violência real e simbólica contra a democracia:  “É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência. ”
No caso brasileiro, a liturgia formal do voto popular deixou de ser um “esquema” a beneficiar os históricos usurpadores das riquezas e do trabalho nacionais e, assim sendo, não mais interessa aos donos do deus-dinheiro respeitar as regras procedimentais da democracia. O resultado eleitoral pode, portanto, ser anulado com desculpas das mais esfarrapadas. Os capachos tupiniquins do grande sistema de corrupção internacional que move o capitalismo atualmente resolveram jogar no lixo as deliberações eleitorais para tocarem um impeachment sem crime de responsabilidade. O que é isso? Simples: é golpe. 
Essa percepção acerca do estupro à nossa democracia parece se tornar cada vez mais clara. Mesmo não apreciando certo culturalismo dependente que gosta de bajular as “inteligências” alienígenas como se fossem melhores que a produção da reflexão autóctone, é digno de destaque o fato de, nesta semana, intelectuais de referência em todo o mundo, como os filósofos alemães Jürgen Habermas, Axel Honneth e Rainer Forst, a filósofa norte-americana Nancy Fraser e o filósofo canadense Charles Taylor terem assinado um manifesto internacional de repúdio ao que classificaram como “golpe branco” contra a democracia brasileira. Expressão também já utilizada, mais de uma vez, pelo Papa Francisco. (Veja aqui >>>).
Segundo o manifesto internacional, a oposição no Brasil, formada por partidos de direita, aproveitou-se da crise econômica para levar adiante uma campanha “violenta” contra um governo eleito democraticamente. Por isso, o objetivo do impeachment da presidenta Dilma Rousseff é atacar direitos sociais, desregulamentar a economia e frear as investigações de corrupção.
Noutro documento, com mais de mil assinaturas, artistas e intelectuais estrangeiros também manifestaram solidariedade ao Brasil. O texto diz que os movimentos sociais “estão sujeitos a uma ofensiva política de grande magnitude que leva o Brasil a um período de grande retrocesso democrático” e obscuridade.
Talvez, pelo fato de ameaçar a hegemonia dos donos do capital especulativo e rentista não somente daqui, mas do mundo (haja vista as potencialidades nacionais, como nossas reservas de petróleo e a biodiversidade – ativos valiosíssimos no presente e no futuro), a caçada ao PT voltou com toda a força nesta semana. Curiosamente, depois de uma reunião entre a ninfa justiceira e um ministro interino e, para o delírio dos moralistas sem moral, foram retomados mais uma vez os espetáculos policialesco-midiático-seletivos. Incrivelmente, logo após a divulgação de dezenas de áudios a comprovarem a corrupção endêmica e sistêmica envolvendo o PMDB, o PSDB e o DEM há anos, nestas plagas. A justiça brasileira é uma bênção para os homens e as mulheres de ben$, com cifrão no final.
Não serei eu a defender Paulo Bernardo e ninguém que, eventualmente, tenha praticado atos de corrupção. Mas, até para um idiota político valem as perguntas: alguém já viu ou ouviu falar que a polícia (política) federal tenha vasculhado as sedes nacionais de partidos inúmeras vezes citados em casos de corrupção como o PSDB, DEM, PP, PMDB? Alguém conhece pelo menos um tesoureiro nacional desses partidos que tenha sido investigado? Quantos ministros do governo FHC, flagrados em escutas comprometedoras em diferentes ocasiões, foram conduzidos à prisão, tiveram condução coercitiva ou prestaram depoimentos (cobertos ao vivo pela mídia?) Em síntese: a juristocracia seletiva tupiniquim faz com que o Tomás de Torquemada, no túmulo, sinta-se apequenado.
O fato é que, como nenhum partido conseguiu ganhar quatro eleições seguidas para a Presidência em toda história republicana brasileira (e, não obstante o massacre midiático-justiceiro contra o ex-presidente Lula, uma liderança que continua firme numa provável disputa presidencial futura), o PT ainda é um perigo real e simbólico aos donos do capital internacional e seus capachos daqui e, portanto, deverá ser aniquilado. E o primeiro passo, dado o fracasso da cavalar campanha midiática contra o partido, é consolidar a empreitada golpista.
Os gigolôs do capitalismo rentista, sacerdotes e sacerdotisas do deus-dinheiro, e seus prepostos das coalizões que articulam o golpe nessas plagas (veja aqui >>>) querem manter o país como eterna colônia. E farão de tudo para trucidar quaisquer pessoas e grupos que se opuserem aos seus intentos.
Robson Sávio Reis SouzaRobson Sávio Reis Souza
Doutor em Ciências Sociais e professor da PUC Minas.

Texto1: "Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro". Entrevista com Giorgio Agamben

 "O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro", afirma Giorgio Agamben, em entrevista concedida a Peppe Salvà e publicada por Ragusa News, 16-08-2012.
Giorgio Agamben é um dos maiores filósofos vivos. Amigo de Pasolini e de Heidegger, Giorgio Agamben foi definido pelo Times e por Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Pelo segundo ano consecutivo ele transcorreu um longo período de férias em Scicli, na Sicília, Itália, onde concedeu a entrevista.
Segundo ele, "a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas". Assim, "a tarefa que nos espera consiste em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”, afima Agamben.
A tradução é de Selvino  J. Assmann, professor de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
Eis a entrevista.
O governo Monti invoca a crise e o estado de necessidade, e parece ser a única saída tanto da catástrofe  financeira quanto das formas indecentes que o poder havia assumido na Itáli. A convocação de Monti era a única saída, ou poderia, pelo contrário, servir de pretexto para impor uma séria limitação às liberdades democráticas?

“Crise” e “economia” atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. ”Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer!”. Creio que seja evidente para todos que a chamada “crise” já dura decênios e nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E se trata de um funcionamento que nada tem de racional.
Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a idéia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro.  O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas - assumiu  o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania ), manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa “a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.
A crise econômica que ameaça levar consigo parte dos Estados europeus pode ser vista como condição de crise de toda a modernidade?
A crise atravessada pela Europa não é apenas um problema econômico, como se gostaria que fosse vista, mas é antes de mais nada uma crise da relação com o passado. O conhecimento do passado é o único caminho de acesso ao presente. É procurando compreender o presente que os seres humanos – pelo menos nós, europeus – são obrigados a interrogar o passado.  Eu disse “nós, europeus”, pois me parece que, se admitirmos que a palavra “Europa” tenha um sentido,  ele, como hoje aparece  como evidente, não pode ser nem político, nem religioso e menos ainda econômico,  mas talvez consista nisso, no fato de que  o homem europeu – à diferença, por exemplo, dos asiáticos e dos americanos, para quem a história  e o passado tem um significado completamente diferente – pode ter acesso à sua verdade unicamente através de um confronto com o passado, unicamente fazendo as contas com a sua história.
O passado não é, pois, apenas um patrimônio de bens e de tradições, de memórias e de saberes, mas também e sobretudo um componente antropológico essencial do homem europeu, que só pode ter acesso ao presente olhando, de cada vez, para o que ele foi.  Daí nasce a relação especial que os países europeus (a Itália, ou melhor, a Sicília, sob este ponto de vista é exemplar)  têm com relação às suas cidades, às suas obras de arte, à sua paisagem: não se trata de conservar bens mais ou menos preciosos, entretanto exteriores e disponíveis; trata-se, isso sim,  da própria realidade da Europa, da sua indisponível sobrevivência. Neste sentido, ao destruírem, com o cimento, com  as autopistas e a Alta Velocidade, a paisagem italiana, os especuladores não nos privam apenas de um bem, mas destroem a nossa própria identidade. A própria expressão “bens culturais” é enganadora, pois sugere que se trata de bens entre outros bens, que podem ser desfrutados economicamente e talvez vendidos, como se fosse possível liquidar e por à venda a própria identidade.
Há muitos anos, um filósofo que também era um alto funcionário da Europa nascente, Alexandre Kojève, afirmava que o homo sapiens havia chegado  ao fim de sua história e já não tinha nada diante de si a não ser duas possibilidades: o acesso a uma animalidade pós-histórica (encarnado pela american way of life) ou o esnobismo (encarnado pelos japoneses, que continuavam a celebrar as suas cerimônias do chá, esvaziadas, porém, de qualquer significado histórico). Entre uma América do Norte integralmente re-animalizada e um Japão que só se mantém humano ao preço de renunciar a todo conteúdo histórico, a Europa poderia oferecer a alternativa de uma cultura que continua sendo humana e vital, mesmo depois do fim da história, porque é capaz de confrontar-se com a sua própria história na sua totalidade e capaz de alcançar, a partir deste confronto, uma nova vida.

A sua obra mais conhecida, Homo Sacer, pergunta pela relação entre poder político e vida nua, e evidencia as dificuldades presentes nos dois termos. Qual é o ponto de mediação possível entre os dois pólos?
Minhas investigações mostraram que o poder soberano se fundamenta, desde a sua origem, na separação entre vida nua  (a vida biológica, que, na Grécia, encontrava seu lugar na casa) e vida politicamente qualificada (que tinha seu lugar na cidade). A vida nua foi excluída da política e, ao mesmo tempo,  foi incluída e capturada através da sua exclusão. Neste sentido, a vida nua é o fundamento negativo do poder.  Tal separação atinge sua forma extrema na biopolítica moderna, na qual o cuidado e a decisão sobre a vida nua se tornam aquilo que está em jogo na política.  O que aconteceu nos estados totalitários do século XX reside no fato de que é o poder (também na forma  da ciência) que decide, em última análise, sobre o que é uma vida humana e sobre o que ela não é. Contra isso, se trata de pensar numa política das formas de vida, a saber, de uma vida que nunca seja separável da sua forma, que jamais seja vida nua.

O mal-estar, para usar um eufemismo, com que  o ser humano comum se põe frente  ao mundo da política tem a ver especificamente com a  condição italiana ou é de algum modo inevitável? 

Acredito que atualmente estamos frente a um fenômeno novo que vai além do desencanto e da desconfiança recíproca entre os cidadãos e o poder e tem a ver com o planeta inteiro. O que está acontecendo é uma transformação radical das categorias com que estávamos acostumados a pensar a política. A nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas. E que este modelo seja, do ponto de vista do poder, mais  econômico e funcional é provado pelo fato de que foi adotado também por aqueles regimes que até poucos anos atrás eram ditaduras. É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência.  As formas da política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.

O estado de exceção, que o senhor vinculou ao conceito de soberania, hoje em dia parece assumir o caráter de normalidade, mas os cidadãos ficam perdidos perante a incerteza na qual vivem cotidianamente. É possível atenuar esta sensação?

Vivemos há decênios num estado de exceção que se tornou regra, exatamente assim como acontece na economia  em que a crise se tornou a condição normal. O estado de exceção – que deveria sempre ser limitado no tempo – é, pelo contrário, o modelo normal de governo, e isso precisamente nos estados que se dizem democráticos.  Poucos  sabem que as normas introduzidas, em matéria de segurança, depois do 11 de setembro (na Itália já se havia começado a partir dos anos de chumbo) são piores do que aquelas que vigoravam sob o fascismo. E os crimes contra a humanidade cometidos durante o nazismo foram possibilitados exatamente pelo fato de Hitler, logo depois que assumiu o poder, ter proclamado um estado de exceção que nunca foi revogado. E certamente ele não dispunha das possibilidades de controle (dados biométricos, videocâmaras, celulares, cartões de crédito) próprias dos estados contemporâneos. Poder-se-ia afirmar hoje que o Estado considera todo cidadão um terrorista virtual. Isso não pode senão piorar e tornar impossível  aquela participação na política que deveria definir a democracia. Uma cidade cujas praças e cujas estradas são controladas por videocâmaras não é mais um lugar público: é uma prisão.

A  grande autoridade que muitos atribuem a estudiosos que, como o senhor, investigam a natureza do poder político poderá trazer-nos esperanças de que, dizendo-o de forma banal,  o futuro será melhor do que o presente?

Otimismo e pessimismo não são categorias úteis para pensar. Como escrevia Marx em carta a Ruge: ”a situação desesperada da época em que vivo me enche de esperança”.

Podemos fazer-lhe uma pergunta sobre a lectio que o senhor deu em Scicli? Houve quem lesse a conclusão que se refere a Piero Guccione como se fosse uma homenagem devida a uma amizade enraizada no tempo, enquanto outros viram nela uma indicação  de como sair do xequemate no qual a arte contemporânea está envolvida.

Trata-se de uma homenagem a Piero Guccione e a Scicli, pequena cidade em que moram alguns dos mais importantes pintores vivos. A situação da arte hoje em dia é talvez o lugar exemplar para compreendermos a crise na relação com o passado, de que acabamos de falar. O único lugar em que o passado pode viver é o presente, e se o presente não sente mais o próprio passado como vivo, o museu e a arte, que daquele passado é a figura eminente, se tornam lugares problemáticos. Em uma sociedade  que já não sabe o que fazer do seu passado, a arte se encontra premida entre a Cila do museu e a Caribdis da mercadorização. E muitas vezes, como acontece nos templos do absurdo que são os museus de arte contemporânea,  as duas coisas coincidem.
Duchamp talvez tenha sido o primeiro a dar-se conta do beco sem saída em que a arte se meteu. O que faz Duchamp quando inventa o ready-made?  Ele toma um objeto de uso qualquer, por exemplo, um vaso sanitário, e, introduzindo-o num museu, o força a apresentar-se como obra de arte.  Naturalmente - a não ser o breve instante que dura o efeito do estranhamento e da surpresa – na realidade nada alcança  aqui a presença: nem a obra, pois se trata de um  objeto de uso qualquer, produzido industrialmente, nem a operação artística, porque não há de forma alguma uma poiesis, produção – e nem sequer o artista, porque aquele que assina com um irônico nome falso o vaso sanitário não age como artista, mas, se muito, como filósofo ou crítico, ou, conforme gostava de dizer Duchamp, como “alguém que respira”, um simples ser vivo.
Em todo caso, certamente ele não queria produzir uma obra de arte, mas desobstruir o caminhar da arte, fechada entre o museu e a mercadorização.  Vocês sabem: o que de fato aconteceu é que um conluio,  infelizmente ainda ativo, de hábeis especuladores e de “vivos” transformou o ready-made em obra de arte. E a chamada arte contemporânea nada mais faz do que repetir o gesto de Duchamp, enchendo com  não-obras e performances a museus, que são meros organismos do mercado, destinados a acelerar a circulação de mercadorias, que, assim como o dinheiro, já alcançaram o estado de liquidez e querem ainda valer como obras. Esta é a contradição da arte contemporânea: abolir a obra e ao mesmo tempo estipular seu preço.

Texto2: “O Papa Francisco se preocupa com a situação política do Brasil. Será que ele está sozinho?

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Fotomontagem. Da esquerda para a direita: Papa Francisco com Esquivel; com Letícia Sabatela e a juíza Kenarik; com os bispos do CELAM e, finalmente, recebendo o livro "Resistência ao Golpe")

Nos últimos dois meses, de fontes diversas e confiáveis, ignoradas solenemente pela mídia golpista, ficamos sabendo da preocupação do Papa Francisco com a situação política do nosso país. (Aliás, desde o início do ano passado o pontífice já teria se manifestado várias vezes junto a órgãos da igreja católica no Brasil acerca de sua apreensão com o desenrolar da crise política e econômica).

No final de abril, o escritor argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio nobel da paz em 1980, revelou, em entrevista ao jornalista Darío Pignotti, do jornal Página 12, que levou à presidenta Dilma Rousseff o apoio do Papa Francisco: “o papa Francisco está muito preocupado com o que está acontecendo no Brasil; tudo isso vai trazer consequências negativas para toda a região e teremos um grave retrocesso democrático”.

Ainda, segundo Esquivel, numa conversa sobre os acontecimentos no Brasil, o Papa afirmou que o impeachment não passa de um golpe brando. O papa também teria lhe dito que Dilma é uma mulher honesta, denunciada por corruptos.

Poucos dias depois, em 9 de maio, a atriz Letícia Sabatella e a juíza Kenarik Boujikian Felippe participaram de um encontro oficial com o papa Francisco, no Vaticano. Na ocasião, entregaram a ele uma carta denunciando a ilegalidade do impeachment da presidenta. A carta foi assinada pelo advogado Marcello Lavenère, membro da Comissão Justiça e Paz, um organismo ligado a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). O texto considera o impedimento de Dilma um “golpe parlamentar de Estado”, manipulado pela mídia, sem fundamento legal e afirma que essa conjuntura poderá afetar outros países da América Latina. Na ocasião, o Papa, novamente, teria expressado inquietação com o desenrolar do processo golpista.

Em 19 de maio, numa reunião com a presidência do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) – órgão colegiado dos bispos de toda a América Latina – o  Papa Francisco, mais uma vez, advertiu que pode ​​estar acontecendo "golpes de estado suave” em alguns países da região, notadamente se referindo às deposições arbitrárias de presidentes ocorridas em Honduras, Paraguai e, agora, em curso, no Brasil. Na ocasião, Francisco expressou sua preocupação com os problemas sociais dos países da América Latina em geral.

Num encontro com juízes no Vaticano, nesta sexta, 03 de junho, o Papa Francisco recebeu um exemplar do livro “A resistência ao golpe de 2016”, das mãos do procurador de Justiça Rômulo de Andrade Moreira, da Bahia.

Nenhum dos acontecimentos acima mencionados foram desmentidos pelo Vaticano. Portanto, podemos concluir que são informações fidedignas.

O Papa Francisco tem demonstrado, em reiteradas ocasiões, sua angústia em relação a uma onda direitista e neoliberal que está eliminando em diversos países as conquistas sociais alcançadas nas últimas décadas. Neste sentido, o Papa tem advertido com toda a firmeza acerca dos governos serviçais da atual fase do capitalismo rentista, especulativo e concentrador de riqueza e renda. Trata-se de um modelo político-econômico da “economia que mata”, do “capital transformado em ídolo”, da “ambição sem limites do dinheiro que comanda” tudo, nas palavras do Pontífice. Ora, o governo interino brasileiro encaixa-se milimetricamente nessa categoria.

Francisco já deixou claro que “a distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia; é um dever moral”. No encontro com movimentos populares, na Bolívia, ano passado, exclamou: "Digamos sem medo. Queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco".

No caso brasileiro, acrescente-se o fato de o papa conhecer a presidenta Dilma. Ele certamente sabe que, apesar de erros na condução do governo, trata-se de uma mulher honesta e honrada. Situação diametralmente oposta em relação às coalizões que tocaram o “golpe brando”, formadas pelos grupos empresariais, políticos, midiáticos, judiciários e elitistas que, historicamente, sempre se locupletaram às custas do suor, da dor e do sacrifício dos pobres e dos trabalhadores brasileiros. Como revelara a Esquivel, “Dilma é uma mulher honesta, denunciada por corruptos”.

Conhecedor da história, do sofrimento e da exclusão social dos pobres, dos trabalhadores e das minorias nos países latino-americanos, o Papa não se omite em posicionar contrariamente ao “golpe brando” que, articulado através de conchavos de elites e em flagrante desrespeito ao voto popular, impõe no Brasil um governo neoliberal e elitista, comprometido com os interesses do capital e não das pessoas.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o momento atual

         Se por um lado o Papa Francisco tem deixado transparecer seu incômodo acerca do golpe brando em curso, o que acontece em relação a hierarquia católica brasileira?

Durante o ano passado e até o mês de abril deste ano, antes do início do processo de impedimento, a CNBB divulgou uma série de notas oficiais sobre o momento político nacional.

Em 8 de dezembro de 2015, um comunicado do episcopado brasileiro afirmava: “neste momento grave da vida do país, a CNBB levanta sua voz para colaborar, fazendo chegar aos responsáveis o grito de dor desta nação atribulada, a fim de cessarem as hostilidades e não se permitir qualquer risco de desrespeito à ordem constitucional. Nenhuma decisão seja tomada sob o impulso da paixão política ou ideológica. Os direitos democráticos e, sobretudo, a defesa do bem comum do povo brasileiro devem estar acima de interesses particulares de partidos ou de quaisquer outras corporações. É urgente resgatar a ética na política e a paz social, através do combate à corrupção, com rigor e imparcialidade, de acordo com os ditames da lei e as exigências da justiça”. (Grifos nossos).

 Outra nota, de 28 de outubro de 2015, conclamava: “somos todos convocados a assegurar a governabilidade que implica o funcionamento adequado dos três poderes, distintos, mas harmônicos; recuperar o crescimento sustentável; diminuir as desigualdades; exigir profundas transformações na saúde e na educação; ampliar a infraestrutura, cuidar das populações mais vulneráveis, que são as primeiras a sofrer com os desmandos e intransigências dos que deveriam dar o exemplo. Cada protagonista terá que ceder em prol da construção do bem comum, sem o que nada se obterá.  É preciso garantir o aprofundamento das conquistas sociais com vistas à construção de uma sociedade justa e igualitária. Cabe à sociedade civil exigir que os governantes do executivo, legislativo e judiciário recusem terminantemente mecanismos políticos que, disfarçados de solução, aprofundam a exclusão social e alimentam a violência, entre os quais o estado penal seletivo, as tentativas de redução da maioridade penal, a flexibilização ou revogação do Estatuto do Desarmamento e a transferência da demarcação de terras indígenas para o Congresso Nacional.” (Grifos nossos).

Em 10 de março deste ano, novamente uma nota oficial da entidade pontuava: “importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça”. (Grifos nossos).

A última das notas sobre o momento político, datada de 13 de abril, durante a realização da 54ª Assembleia Geral da entidade, afirmava: “a forma como se realizam as campanhas eleitorais favorece um fisiologismo que contribui fortemente para crises como a que o país está enfrentando neste momento. Uma das manifestações mais evidentes da crise atual é o processo de impeachment da Presidente da República.Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acompanha atentamente esse processo e espera o correto procedimento das instâncias competentes, respeitado o ordenamento jurídico do Estado democrático de direito. A crise atual evidencia a necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que assegure efetiva participação popular, favoreça a autonomia dos Poderes da República, restaure a credibilidade das instituições, assegure a governabilidade e garanta os direitos sociais.” (Grifos nossos).

Porém, sabe-se que durante essa assembleia geral, ocorrida entre os dias 6 e 15 de abril, em Aparecida (SP), houve uma intensa discussão entre o bispado acerca das interpretações da crise política brasileira e o processo de impeachment. Visões e discursos diametralmente opostos fizeram do encontro, segundo fontes extraoficiais, um dos momentos mais tensos da hierarquia católica nas últimas décadas. Impactados com a tensão e receosos de uma quebra da colegialidade (um arranjo político que mantém, formalmente, a unidade do episcopado nacional), parece que a CNBB optou por um silêncio sepulcral desde então.

Não obstante, cabe uma primeira indagação: tendo em vista os posicionamentos da CNBB, expressos nas notas acima mencionadas, e frente às várias ações e medidas anunciadas pelo governo interino, que implicarão em cortes nos programas sociais (atingindo frontalmente os mais pobres), precarização do emprego e da previdência (atingindo os trabalhadores, aposentados, beneficiários do Benefício de Prestação Continuada e pensionistas), restrição de direitos, criminalização de grupos e movimentos sociais, haveria uma palavra do episcopado brasileiro em relação às medidas anunciadas pelo governo interino?

A ação política da Igreja católica, a ampliação das bancadas evangélicas e o recrudescimento dos discursos religiosos moralistas e fundamentalistas

É fato que a Igreja católica tem perdido prestígio político nos últimos tempos, apesar de se manter como instituição com grande credibilidade, conforme atestam pesquisas sobre confiança nas instituições. Por outro lado, fala-se muito da atuação conservadora e fundamentalista da bancada evangélica nos governos e parlamentos. Mas, a bem da verdade, o tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da Frente Parlamentar Evangélica, por exemplo, só avança, em boa medida, graças ao apoio daqueles parlamentares que se autodeclaram católicos.

Segundo pesquisa feita pelo Portal G1, no início dessa legislatura, o catolicismo era a religião predominante entre os 513 deputados federais. De 421 deputados que responderam ao questionário proposto numa enquete pelo Portal, 300 (ou seja, 71,2%) se declararam católicos. Outros 68 (16%) afirmaram ser evangélicos, oito (1,9%) disseram ser adeptos do espiritismo e apenas um deputado (0,23%) afirmou ser judeu. Outra pesquisa, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), apontou que a bancada evangélica tem 75 deputados federais e três senadores. Portanto, cerca de 15% dos deputados são da bancada evangélica. Significa que os outros 85% não são evangélicos. (Leia mais sobre esse tema, aqui).

De acordo com Magali Cunha, docente da Universidade Metodista de São Paulo - que estuda e pesquisa a bancada evangélica -, o movimento de protagonismo dessa bancada em direção ao conservadorismo é um capítulo recente da história do parlamento brasileiro: “é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da Frente Parlamentar Evangélica, que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais e dos grupos de Direitos Humanos, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católicos, diálogo historicamente impensável no campo eclesiástico”.

Em relação à ação da Igreja católica na política institucional, atualmente os clérigos são proibidos de exercerem mandatos políticos. Se o fizerem, devem pedir temporariamente licença do exercício da ordem sacerdotal.  A Igreja católica estimula os chamados “leigos” a exercerem os cargos públicos nos governos, parlamentos e partidos políticos. Porém, tal estímulo não implica numa ação efetiva com vistas a incidir na escolha, acompanhamento e avaliação daqueles “fiéis” que são eleitos e assumem cargos e funções públicas.

Na “vida como ela é”, como dizia Nelson Rodrigues, sabe-se que apesar de oficialmente a Igreja católica não apoiar partidos nem candidatos, os arranjos informais, principalmente em períodos eleitorais, são comuns na relação entre clérigos e candidatos de variados partidos. Os apoios de parte substantiva do clero ocorrem de diversas formas e estratégias, desnecessárias de serem descritas aqui.

Note-se, também, que o discurso de isenção política da hierarquia católica acaba por favorecer, em grande medida, uma postura descomprometida com aqueles políticos e partidos que, tradicionalmente, são beneficiados por uma legislação político-eleitoral altamente favorável à eleição e manutenção em cargos públicos dos caciques partidários e das elites político-econômicas não comprometidas com transformações sociais. Acontece, que o seguimento de Jesus Cristo, para ser genuíno e autêntico, exige participação ativa no trabalho de transformação da sociedade, conforme podemos observar na Doutrina Social da Igreja.

Para complicar ainda mais, os pouquíssimos candidatos eleitos que provêm dos setores populares e de movimentos sociais e eclesiais comprometidos com os mais pobres e excluídos acabam abandonados pela instituição, sob o argumento segundo o qual a Igreja não se envolve com a política partidária. O resultado dessa estratégia é perceptível: uma miríade de políticos eleitos, autodenominados católicos, cujas práticas nos governos e nos parlamentos são uma lástima e não representam, nem de longe, os ideais cristãos de justiça, solidariedade, igualdade, fraternidade, dentre outros.

O fato objetivo é que muitos governantes e parlamentares são eleitos com votos arregimentados em espaços eclesiais católicos. Nos governos e nos parlamentos significativa parte desses católicos tem se aliado às bancadas evangélicas, com interesses pouco confessáveis.

Diferentemente das Igrejas pentecostais e neopentecostais que assumiram uma postura francamente agressiva em relação à ocupação do poder, seja no executivo ou no parlamento, elegendo representantes, salvo exceções, com visões de mundo e sociedade conversadoras, machistas, moralistas e eivadas de preconceitos, a Igreja católica insiste na tese que não se mistura com política partidária.

Paradoxalmente, a os dirigentes católicos afirmam que a política é a arte do exercício do bem comum, mas, na prática, passam uma mensagem dúbia, que pode levar muitos fiéis a interpretarem a política como “coisa suja”.

Portanto, aqui, cabe uma segunda pergunta, tendo em vista os argumentos acima: será que a igreja católica não se envolve, mesmo, com a política institucional? Porque, e importante lembrar que o envolvimento político se dá pela ação ou omissão; pelo posicionamento ou não posicionamento, etc. Ou seja, ninguém, nem pessoa nem instituição, é neutro.


Por fim, tendo em vista as preocupações do Papa Francisco com a situação política brasileira; o fato de o governo interino ter anunciado uma série de medidas a penalizarem os pobres, trabalhadores, minorias e, finalmente, a postura liberal conservadora daqueles que se autodenominam católicos no Congresso, uma última pergunta: qual seria a mensagem da Igreja à sociedade brasileira neste momento após o início do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
http://robsonsavio.blogspot.com.br/2016/06/o-papa-francisco-se-preocupa-com.html

Texto3: “A mídia, o golpe e a pseudoguerra do bem versus o mal



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À medida que o poderio econômico foi dominando a mídia, muitos “profissionais da pena” foram se subjugando aos interesses patronais e outros se transformando em animadores de auditório. Parte do jornalismo, ator político relevante na formação da “opinião pública”, tem se contentado com o apequenado papel de ventríloquo.

Presenciamos no Brasil uma incestuosa relação no universo da comunicação de massa: de uma maneira geral, o jornalismo domado às conveniências do grande capital sucumbe aos ditames dos donos dos oligopólios empresariais e midiáticos que determinam o que deve ser pautado, como, quando, de qual forma, com qual recorte e viés, assim como o que deve ser publicado (melhor dizendo, publicizado — dado que a produção da notícia se transformou ora em mercadoria, ora em produto de entretenimento). Assim, o jornalismo dos grandes veículos de comunicação decompõe-se em espetáculo, muitas vezes grotesco, a ser vendido de forma sensacionalista, eivado de interesses de classe, para o deleite do telespectador-consumidor desavisado.

Numa afronta colossal ao direito humano à comunicação, as grandes redes de mídia e as poderosas agências noticiosas escolhem, selecionam, manipulam e determinam o que deve ser divulgado e sob qual ótica os fatos são apresentados à opinião pública.

Há muito se questiona a isenção e a imparcialidade dos meios de comunicação. Por um lado, em virtude das relações imbricadas e promíscuas que envolvem os donos dos veículos (muitos dos quais, editores de suas empresas de comunicação; outros tantos, políticos herdeiros da velha estrutura colonial e familiar) com setores conservadores, elitistas e golpistas; por outro, pela fragilidade de parte de seus quadros profissionais, submissos (e impotentes) frente às determinações patronais. Quem perde com essa situação é a democracia que deixa de ter na imprensa o contraponto às mazelas sociais, econômicas e políticas.

Acompanhamos, com perplexidade e surpresa, a cobertura que a mídia tem dado às denúncias de corrupção que assolam frequentemente nossa República. A imprensa tem desprezado o aprofundamento das informações e demonstrado discricionariedade e seletividade na cobertura. A guerra do bem  versus  o mal reproduz o velho estilo maniqueísta (uma forma de pensar simplista em que o mundo é visto como que dividido em dois, reduzindo os fenômenos humanos e sociais a uma relação de causa e efeito, certo e errado, isso ou aquilo; sendo que a simplificação nasce da intolerância ou desconhecimento em relação a verdade do outro e/ou da pressa de entender e refletir sobre a complexidade de tais fenômenos.).  Quase não se fala, por exemplo, sobre os corruptores, os donos do capital e os interesses econômicos por detrás dos políticos e empresários corruptos. E que a corrupção não é obra brasileira. Trata-se de uma grande engenharia multinacional, construída para manter e fazer funcionar o capitalismo rentista.

Somos bombardeados com um vendaval de informações pontuais, muitas vezes descontextualizadas, passando a (falsa) impressão, por exemplo, de que todos são, essencialmente, corruptos e desonestos quando, na verdade, o discurso do combate à corrupção funciona como lenitivo de salvaguarda da elite empresarial-midiática-política, historicamente envolvida até o pescoço com os malfeitos. Os brasileiros e brasileiras não são corruptos por essência, como a mídia quer que acreditemos. Mas nossas elites o são. Esse é o ponto. Essa mentira vendida como verdade (de que todos são, indistintamente, corruptos) tem provocando um misto de histeria coletiva de caça às bruxas, expressa na raiva, ódio e desilusão em relação ao sistema político e provocado um imobilismo cívico – a ideia de que este país não tem conserto. Portanto, entreguemo-lo para os ratos.

Outro fenômeno que ressurgiu a partir das manifestações de 2013 e se recrudesceu nas últimas eleições, em 2014, foi um misto difuso de ódio e vingança, fazendo da disputa eleitoral uma verdadeira guerra, quando o processo democrático da escolha dos representantes deveria ser tão e somente um embate civilizado e respeitoso de ideias, opiniões e pontos de vista sobre os rumos do país. A quem interessa um país no qual os cidadãos têm nojo da política?

Frente a tanta (des)informação parece que estamos perdidos; que ninguém é honesto; que não vale a pena lutar pela ética, a verdade, a justiça. A mensagem subliminar seria, então, que vale a pena ser desonesto e chafurdar-se nas pequenas corrupções do dia a dia? É essa a mensagem sub-reptícia que nos é passada por essa mídia venal e fascista?

O pior dos mundos é quando os cidadãos não reconhecem na ética, na verdade, na mobilização social e na luta política os caminhos para as mudanças.

O filósofo e cientista político esloveno Slavoj Žižek  nos ajuda a pensar algo muito importante: a unificação de todos os nossos medos (e/ou discursos do medo) numa (falsa) verdade é o grande objetivo que sempre moveu os ideais dos mais conservadores. Essa estratégia justificou o nazismo (os nazistas tinham horror dos judeus, dos homossexuais...) ou o golpe civil-militar de 1964 (medo do comunismo), por exemplo. E, agora, justifica a assunção de uma quadrilha ao poder. Depois de transformar uma mentira numa verdade (que somente o PT e seus quadros são corruptos), a mídia brasileira liderou a gangue que estuprou nossa democracia. Não é mera coincidência o fato de o sistema de justiça desdenhar os estupros reais, como o ocorrido no Rio de Janeiro, daqueles simbólicos, não menos violentos, como o ocorrido com nossa democracia. A justiça, enquanto sistema, não existe para produzir justiça; senão, para corroborar os intentos e perversões dos poderosos.

O fato, é que a soma dos muitos medos (os verdadeiros ou aqueles construídos no imaginário social) é o ambiente propício para se criar um clima de pânico, instalar a desconfiança generalizada, propagandear uma insatisfação irracional. A partir daí, pode-se construir os pseudo-heróis "salvadores da Pátria"; justifica-se o injustificável; elegem-se os bodes expiatórios lançando-os à fogueira, na condenação midiática para o gozo sempiterno de uma massa amorfa, porque sempre apartada da política.

Mesmo nos regimes ditos democráticos, a construção orquestrada do medo pelos segmentos cujos privilégios são colocados à prova pavimenta atalhos fáceis para o golpismo. Mas, voltemos a Žižek:  a partir da unificação dos medos é fácil acatar como verdade inequívoca o discurso do ódio, da violência, da eliminação a qualquer custo daquele que encarna os males e seus seguidores.

Outro problema político vergonhoso, camuflado nesse cenário, é a intolerância, o racismo, o sectarismo religioso, o preconceito – principalmente de matrizes étnica e socioeconômica -, o fascismo disfarçado de nacionalismo. Esses "demônios" saíram do armário (porque lá sempre estiveram) e seus adeptos (que comportam como massa acéfala) querem se impor, afrontando a democracia.

Infelizmente, alguns privilegiados de ontem e de hoje não aceitaram uma sociedade que caminhava, a passos lentos, na construção da igualdade de fato, para além da igualdade de direito. Querem se manter como diferentes, ostentando os velhos privilégios da Casa Grande. Por isso, preferem morar em Miami. Não conhecem a verdadeira história deste país, porque a conquista de direitos, mesmo lenta e gradual, é irreversível em qualquer sociedade minimamente democrática e plural.

A igualdade de direitos faz parte do processo de consolidação da cidadania e é fundamento da democracia. Não há democracia numa sociedade estamental, como era o Brasil até bem pouco tempo. E não há democracia quando a mídia se transforma em partido político a fomentar e dar suporte ao golpe e, agora, transformando-se em porta-voz do governo golpista.

Texto3.1: “Ganhar as mentes e os corações e enterrar o golpe


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A história recente do Brasil mostra que é preciso convencer as mentes e amolecer os corações para que a indiferença em relação à desigualdade e injustiça social se transforme em ação política capaz de incidir nas mudanças institucionais.

Em 2002, Lula conseguiu convencer mentes e corações acerca da absurda convivência com a miséria e a corrupção naturalizadas em nossa sociedade. E foi eleito presidente. Naquele momento, o PT se tornou hegemônico na constituição de uma coalização mudancista.

Porém, ao longo dos anos o governo petista, embriagado pela mosca azul do poder, deixou-se contaminar, em parte, pelos maus-feitos historicamente perpetrados pelas elites econômicas e políticas deste país. Foi perdendo, paulatinamente, o apoio das esquerdas e daqueles segmentos progressistas que exigem ética e coerência no trato da coisa pública.

Desde 2013, com as jornadas e junho e  durante o processo eleitoral de 2014, numa disputa real e simbólica, observamos a tomada das ruas pelos setores mais conservadores da sociedade brasileira, nas manifestações domingueiras promovidas pela mídia.  Porém, desde o ano passado, com o recrudescimento das disputas políticas, as esquerdas e os movimentos sociais progressistas começaram a esboçar uma reação.

Num cenário de corrosão econômica e “endireitamento” do Parlamento chegamos ao impensável golpe que culminou na assunção de um governo ilegítimo de homens ricos, brancos e corruptos: uma caricatura de nossas elites sociais, políticas e econômicas.

Ao mesmo tempo em que o PT perdia a hegemonia da esquerda, foi-se constituindo uma ampla coalização que se concretiza, como observamos na última manifestação deste 10 de junho, numa resposta pujante na defesa da democracia e suas regras procedimentais e contra a superestrutura do golpe, formada pelas elites políticas, sociais e empresariais, com apoio dos segmentos judiciais e midiáticos.  
As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo foram se somando a outros segmentos sociais que, com a assunção do governo golpista, se unem contra a agenda neoliberal, conservadora e entreguista que tenta destruir não somente um partido político (PT) e uma governante legitimamente eleita (Dilma), mas fundamentalmente a consolidação da democracia e a construção de um país mais justo e igualitário.

A total ausência de notícias sobre as manifestações deste 10 de junho na mídia golpista não sinaliza somente a má-fé dos promotores do golpe, mas, fundamentalmente, o desespero dos setores golpistas à medida que a empreitada conservadora vai sendo desmascarada e aumenta a mobilização social em prol da democracia e contra o governo interino. E isso não ocorre somente no território nacional. Temos informações de manifestações a denunciarem o golpe em várias partes do mundo, envolvendo uma classe média progressista e diversos campos sociais (intelectuais, artistas, militantes políticos, etc.).

As manifestações desse 10 de junho mostraram, claramente, que os setores progressistas da sociedade começaram a ganhar os corações e as mentes dos brasileiros. Aos poucos, todos os brasileiros e brasileiras vão percebendo que governo provisório é péssimo para os trabalhadores, os pobres, os aposentados, os segmentos vulneráveis e também para a classe média que, a curto prazo, pagará o preço de uma política concentradora de riqueza e renda nas mãos de poucos.

Precisamos mostrar que o governo golpista ataca as políticas sociais em vez de taxar os mais ricos. É preciso demonstrar, com toda a clareza, a farsa construída através de perversa tramoia que destituiu uma presidenta legítima e colocou em seu lugar um gabinete cujo programa é o oposto do que foi decidido nas urnas, em 2014. É imperioso mostrar que a presidenta Dilma, mesmo com falhas, fez um governo sério num quadro de endireitamento do Parlamento, aguda crise econômica e traições das mais perversas.

É claro que não estamos em 2002, mas se essa “onda” de esperança num país de e para todos e todas continuar espraiando para dentro e fora do Brasil teremos condições de reverter o golpe e recolocar o país nos trilhos da democracia.

Povo nas ruas e ideias novas precisam se articular num denominador comum da luta para reverter o golpe.

Texto3.2: “A MISÉRIA DAS ELITES BRASILEIRAS

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Fonte: Facebook.
Como naturalizar e não problematizar a imensa injustiça provocada pelas altíssimas taxas de juros e de spread bancário que oprimem toda uma população em favor de meia dúzia de banqueiros e especuladores? Como entender um golpe travestido de legalidade e abençoado pelos setores mais conservadores e retrógrados da sociedade, com a conivência cínica de instituições que, a princípio, deferiam se levantar contra toda afronta à Constituição ou a afronta à dignidade dos pobres?

         Jessé Souza, em sua mais recente obra A tolice da inteligência brasileira, ou como o país se deixa manipular pela elite (São Paulo: LeYa, 2015), nos ajuda a entender que a perfeita união entre o economicismo (“a crença explícita ou implícita de que a variável econômica por si esclarece toda a realidade social”) e o culturalismo conservador (uma ciência da ordem que existe para afirmar e legitimar o mundo como ele é) justificam as leituras dominantes e empobrecedoras do debate político brasileiro. Esse é um dos motivos do porque não indignamos com o fato de que “nos bolsos do 1% mais rico da população brasileira está o resultado do trabalho dos 99% restantes”. E isso parece normal, natural, justificável, imutável e academicamente inquestionável.

Para manter esse empreendimento vergonhoso intacto, somente com muita violência simbólica, “que se disfarça de convencimento pelo melhor argumento”. E aqui entra a miséria da nossa ciência. Como já ensinava Max Weber, é preciso que o dominado socialmente se convença de sua inferioridade para que a dominação social seja possível. Neste sentido, “a legitimação científica da dominação fática produz a imagem de sociedades idealizadas de um lado e de sociedades essencialmente corrompidas do outro”. Portanto, “em vez de apontar para as causas reais da concentração da riqueza nas mãos de uns poucos e para a exclusão da maioria, essas concepções de intelectuais servis ao poder e ao status quo nos levam a acreditar que nossos problemas advêm da ‘corrupção apenas do Estado’, levando a uma falsa oposição entre o Estado demonizado, tido como corrupto, e um mercado visto como o reino de todas as virtudes”.

A bem da verdade, as elites nacionais nunca se importaram com a consolidação de um sistema educacional voltado aos interesses da cidadania, com o objetivo de concretizar uma república de fato (para além da formalidade do direito). Conviver pacificamente com essa abissal desigualdade social assistindo em berço esplêndido e impunemente o extermínio de sessenta mil cidadãos por ano (a maioria negros e pobres e parte significativa sendo eliminada por agentes do estado), além de um descomunal cinismo é um dos dados mais evidentes da intensa fragilidade de uma sociedade que nunca foi e não é nem republicana, nem liberal-democrática e cujo Estado nunca foi e não é  de direito (a não ser na formalidade da lei que é manipulada ao bel-prazer de e para poucos). Como dizia Darcy Ribeiro: "o Brasil tem uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir pra frente!"

As críticas de Jessé Souza acerca do servilismo dos intelectuais brasileiros aos interesses dos poderosos precisam ser consideradas: “Todos os dias indivíduos normalmente inteligentes e classes sociais inteiras são feitos de tolos para que a reprodução de privilégios injustos seja eternizada entre nós. Para enxergar com clareza nosso real lugar no mundo, é fundamental compreender como nossa elite intelectual submissa à elite do dinheiro construiu uma imagem distorcida do Brasil de modo a disfarçar todo tipo de privilégio injusto. Os poucos que hoje controlam tudo precisam desse “exército de intelectuais”, do mesmo modo que os coronéis do passado precisavam de seu pequeno exército de cangaceiros. (...) E produzir “convencimento” é precisamente o trabalho de intelectuais no mundo moderno, substituindo os padres e religiosos do passado.”

Mas, por que o título do livro trata de uma “tolice da inteligência brasileira”?  Porque, segundo o autor, e concordamos com ele, os principais intérpretes do Brasil sempre foram “colonizados até o osso”. Criaram suas teorias sociológicas e políticas a partir do pressuposto de um desenvolvimento socioeconômico relativamente baixo, como próprio das pessoas de sociedades como a nossa e não como resultado de uma estrutura e institucionalidade de distribuição da riqueza (acesso a bens e serviços) extremamente desiguais e excludentes.

A bem da verdade, constata Jessé Souza, a maioria dos cientistas sociais e políticos vê a modernidade como se fosse uma “fábula para adultos”; ou seja, a modernidade descrita como fruto de uma benção divina. Assim, algumas sociedades abençoadas têm pessoas boas que são recompensados (por méritos) com riquezas. Outras, não são abençoadas e têm pessoas más, padecendo do castigo da pobreza.

Neste sentido, no caso da tolice à brasileira, trata-se de criar todo um conjunto de teorias com vistas a confundir a causa (desigualdade extrema associada a “pobreza extrema”) com a consequência (reprodução crônica e ampliada das “doenças” modernas). A partir dessa “confusão”, os tolos, que somos todos nós, acabam vendo subjetividade, ou seja, sociedades melhores, onde na verdade existe objetividade, isto é, sociedades estruturalmente mais ou menos desiguais.

A leitura atenta do livro de Jessé Souza ajuda-nos, entre outras possibilidades de apreensão das muitas mazelas nacionais, a entender um pouco mais sobre a crise política que vivenciamos nos últimos meses. A erosão das instituições políticas somente confirma o que todos sabíamos, mas não queríamos reconhecer: somos uma república das bananas, na qual, salvo exceções, as elites (políticas, econômicas, intelectuais, religiosas e jurídicas) defendem na teoria uma democracia formal, mas não se comprometem na concretização de numa democracia de fato.

A ressaca frustrante dessa democracia de faz-de-c0nta, que não respeita sequer a formalidade dos procedimentos determinados pela Constituição Federal de 1988, foi comprovada no golpe parlamentar-jurídico-empresarial-midiático-elitista em curso no país. No livro, editado no ao passado, o autor já antevia no capítulo “o golpismo de ontem e de hoje: considerações sobre o momento atual”, o que ocorreu, de fato, neste ano.

Construtores e patrocinadores dos contos da carochinha sobre corrupção, isenção da justiça e deficiência do Estado, divulgados em doses cavalares pela mídia (afinal, ninguém é dominado se não aceitar a dominação como algo bom ou devido a sua inferioridade moral), os beneficiários diretos de uma desigualdade que se reproduz de forma ampliada fizeram a sociedade brasileira crer que ela é essencialmente corrupta, devendo, portanto, aceitar passivamente o estupro à democracia apadrinhado por uma elite despudora, chafurdada na lama da corrupção, mas com um discurso higienista, salvacionista e eivado de conservadorismo (social, moral, político e religioso).

Os espertos (ricos, beneficiários diretos da estrutura desigual da sociedade) construíram uma farsa fazendo com que o brasileiro, não abençoado e corrupto por natureza, confiasse que o âmago da corrupção está no Estado e no governo de plantão que gerenciava a máquina pública. Como alter ego da sociedade, a mídia ainda cumpriu o perverso papel de propagar a ideia de negação da política (os políticos, os partidos e a democracia representativa como instituição), bem como repudiar a importância do Estado no seu papel de fundamental como lócus de redução da desigualdade social e suas mazelas, entre elas as violências real e simbólica.


Tudo bem arquitetado, assistimos ao golpe elitista reposicionando novamente para o centro das decisões do Estado aquele 1% mais rico, que controla a riqueza e o poder; que tem nas mãos todo o sistema de manipulação da opinião publicada transformada em opinião pública; que tem no sistema de justiça conservador  e seletivo parceiro de primeira hora; que não paga imposto (porque no Brasil os lucros de capital são isentos de tributos) e que, historicamente, sempre usurpou do trabalho e do suor dos 99% dos brasileiros, principalmente dos 70% dos trabalhadores e empobrecidos. E todos, como marionetes, assistimos ao espetáculo sem perceber que os mesmos de sempre pagarão a conta do banquete dos poderosos. 
http://robsonsavio.blogspot.com.br/2016/06/a-miseria-das-elites-brasileiras.html

A involução social, política, moral e ética de um governo ilegítimo


Não é preciso esperar um mês, sequer uma semana, para fazer uma avaliação do governo ilegítimo. Cinco horas depois da notificação pelo Senado, o presidente interino deixou claro seu compromisso com a dilapidação das políticas e das instituições de proteção e garantia de direitos, de proteção social e de combate à corrupção.

A composição ministerial do novo governo chega a ser uma afronta inominável à população brasileira: um time composto por 100% de homens brancos, 78% milionários, 31% donos de rádio e TV, 31% citados na Operação Lava Jato mostra a que veio o coronel da velha república. Ao escolher como lema “ordem e progresso” (os ideais de Benjamin Constant e dos fundadores da república de e para poucos - fazendeiros, ilustrados positivistas, maçons e militares), o governo ilegítimo deixa claro que a ordem burguesa conservadora, elitista e opressora prevalecerá de agora em diante, lançando o país no século 19. Ordem burguesa, para ficar claro, é aquela estrutura policial-judicial-estatal que, em nome da lei, sufoca, reprime e, no limite, elimina todo o opositor. Não é à toa que os pitbulls globais, por exemplo, já vomitam nos noticiários da emissora oficial do golpe expressões do tipo “desordeiros” ou “baderneiros” (em relação aos movimentos sociais e manifestações contra o governo) para justificar a repressão.

         No campo dos direitos humanos, quero sublinhar, tivemos uma regressão de quase meio século. Desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assistimos no mundo inteiro uma ampliação das políticas públicas de defesa, garantia, proteção e promoção de direitos. No Brasil, mesmo que tardiamente, desde o governo Sarney, passando pela Constituição Federal de 1988, depois no governo FHC (com a criação de órgãos, programas, projetos e políticas de direitos humanos) e a ampliação e consolidação dessas políticas nos governos Lula e Dilma, tivemos a construção de uma sólida política de estado de direitos humanos. Agora, ruborizados de vergonha, assistimos, numa canetada e de forma violenta, a extinção dos ministérios da Igualdade Racial, das Mulheres, da Juventude, dos Direitos humanos. Na prática, um colossal retrocesso em relação aos direitos de mulheres, jovens e negros, e mais especificamente, dos quilombolas, povos de matriz africana, povos e comunidades tradicionais, população LGBT, grupos vítimas de tráfico de pessoas e tortura, entre outros.

Chama a atenção o fato de se localizar justamente no Ministério da Justiça o novo órgão que cuidará desses temas. O atual titular da pasta da justiça (?), que era secretário de segurança de São Paulo, autorizou a invasão das escolas e a prisão de adolescentes que as ocupavam, protestando contra a máfia da merenda. Além disso, já foi advogado de Eduardo Cunha, o inominável, e do PCC (Primeiro Comando da Capital) (veja aqui). Recentemente, disse à imprensa que determinadas manifestações populares são atos de guerrilha (veja aqui). Será mera coincidência essa estreita relação do novo governo com o governo Alckmin? Seria uma prévia do projeto dos tucanos com os peemedebistas para 2018?

É bom lembramos, aqui, Hannah Arendt: primeiro, a violência destitui a fala, no caso, das minorias. Depois, vêm todas as outras formas de domínio e de opressão. Esses grupos historicamente invisibilizados e vulnerabilizados da sociedade brasileira passam, de agora em diante, a serem definitivamente excluídos e extirpados do estado (não-democrático de direita).

Como se não bastassem tantos retrocessos e violências contra uma sociedade plural, desigual e diversificada, o governo ilegítimo fundiu os ministérios da Educação e da Cultura, colocando em seu comando um político do DEM que é a favor do rebaixamento da idade penal e que tem questionado, repetidas vezes, políticas de ampliação da educação pública, de ações afirmativas e de alargamento do acesso à universidade pública. Também aqui há uma visão do século 19, que sustenta o perverso argumento segundo o qual as universidades públicas devem ser centros de formação da elite dirigente do país. 

Na biografia do titular da educação consta ainda o fato de ele ter fortes relações com o instituto que cedeu ao governo tucano de São Paulo o projeto de reestruturação das escolas, ocasionando uma forte e cívica reação dos estudantes que passaram a ocupá-las, primeiro denunciando esse projeto; depois pelo roubo da merenda naquele estado (veja aqui).

Em relação a violência contra os trabalhadores e as trabalhadoras deste país,  a transformação do Ministério do Trabalho e Previdência Social em Ministério do Trabalho e o fato de a Previdência passar a ser uma mera atribuição do ministro da Fazenda, com o compromisso explícito de realizar uma ampla reforma (alterando a idade mínima para aposentadoria, desvinculando o salário mínimo do reajuste das aposentadorias e possivelmente privatizando a Previdência) mostra claramente o desdém do governo ilegítimo para com a classe trabalhadora. O ministro da fazenda, que recuso citar seu nome, teve a desfaçatez de afirmar que “direitos adquiridos é um conceito impreciso” (veja aqui), não restando dúvida que o feitor dos trabalhadores não poupará sequer os direitos previdenciários já adquiridos.

E tem mais: a extinção da Controladoria-Geral da União (CGU), o órgão responsável nos últimos anos pelo sistemático combate e desmonte da corrupção na máquina pública federal (sendo mais eficiente que as estruturas seletivas do judiciário e ministério público nessa área), foi extinta em ataque frontal ao direito de acesso à informação e limitação do combate à corrupção. Sua extinção e substituição pelo Ministério de Transparência, Fiscalização e Controle, esse pomposo nome que não significa nada na prática, retira autonomia do órgão (fundamental para um enfrentamento eficiente da corrupção). Ademais, trata-se de uma afronta à doutrina internacional do controle interno que determina que mecanismos de controle estejam diretamente vinculados à Presidência da República. Não precisa escrever mais sobre isso. O fato de o presidente ilegítimo e sete de seus ministros estarem envolvidos em diversas denúncias de corrupção sugere que há algo muito estranho e oculto no aparente reino dos que tomaram o poder sem ter votos. A cegueira da justiça em relação a esse e outros fatos mostra que a degradação dos poderes não se limita no executivo e no legislativo.

A questão agrária e rural será, agora, uma espécie de “puxadinho” do Ministério de Desenvolvimento Social. Sob o comando de um peemedebista gaúcho, a ordem é fortalecer o “empreendedorismo rural”. Quantas palavras bonitas “pra inglês ver”, bem nos moldes positivistas da velha república. Provavelmente, doravante ocorrerão ações sistemáticas para desmontar o que foi criado visando o fortalecimento e a autonomia dos agricultores familiares, camponeses e indígenas que garantem mais de 70% dos alimentos que os brasileiros consomem. De agora em diante, no governo dos coronéis, esses segmentos do campo passam a ser tratados como pobres coitados e não mais como importantes atores do desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país.

Por fim, a violência real e simbólica praticada contra a presidenta Dilma (uma mulher que é bela, recatada, do lar, da luta, da democracia e com mãos limpas) virou escândalo na comunidade internacional. Nenhum chefe de estado e de governo apareceu para defender o governo ilegítimo. Ao contrário, as notícias que temos de várias fontes, obviamente não da imprensa golpista, é que o constrangimento é geral. Até mesmo liberais democratas de variados países que, apesar de serem serviçais do mercado são respeitadores da lei, andam atordoados com as notícias do Brasil. Um vexame sem fim...

É preciso, neste momento, dizer algo mais: instituições e pessoas que se dizem defensores da democracia e se calam frente a tanta violência precisam sair da toca (do comodismo, do medo ou da paralisia decisória). Afinal, como diz o velho ditado popular, geralmente, “quem cala consente”.


Com racionalidade, alguma serenidade e estudando um pouco da história e da política brasileiras, consigo compreender claramente os processos de conquista do poder pelas elites desse país. Historicamente, são inúmeros os exemplos que mostram que esses grupos poderosos (ora com a cruz e a espada; ou com a chibata; ou com as armas e canhões e, agora, com a ajuda do parlamento, da mídia e da justiça) se impõem pela força, contra o povo e o projeto de uma nação, das mais variadas formas. Por isso, o sentimento não é de ódio no coração, nem confusão na mente. Sinto-me triste, envergonhado e angustiado frente à imensa involução social, política, moral e ética de um governo ilegítimo. Por isso, não reconheço um governo golpista.

Impeachment: a farsa do jogo jogado


Assistiremos hoje a mais uma congressada, desta vez urdida pelo Senado Federal, levando os usurpadores, que não passaram pelo crivo das urnas e, portanto, não têm mandato popular para o Palácio do Planalto. Para dar ares de seriedade, os senadores (em sua maioria brancos e ricos e muitos com pendências judiciais) não repetirão a palhaçada da sessão da Câmara. Porém, por mais que escondam, não deixarão de explicitar a farsa de um processo cuja ré é julgada sem ter praticado crime. A farsa do jogo jogado que começou com a não aceitação de Aécio do resultado das urnas tem seu pseudocoroamento no dia de hoje.

Ao longo de um ano, sob a batuta de Janot, Moro, da Polícia Federal e da mídia chafurdaram a vida e as ações de Dilma tentando encontrar um crime de responsabilidade. Como não tiveram êxito, inventaram essa desculpa esfarrapada das pedaladas fiscais para justificarem a empreitada golpista.

As duas coalizões golpistas (veja aqui) conseguiram apear do poder uma presidenta eleita democraticamente e impedida de exercer seu mandato, numa afronta abissal à Constituição. Porém, o resultado desse estupro à democracia virá em doses cavalares nos próximos dias e anos.

Ter esperança na justiça é evidente perda de tempo. Se o STF desejasse um mínimo de moralidade na República deveria ter determinado não somente o afastamento de Eduardo Cunha do seu mandato e da presidência da Câmara, mas também anulado todos os seus atos desde o recebimento da denúncia da PGR em dezembro de 2015. E, nesses atos, estaria inclusa a patética sessão da Câmara de 17 de abril quando foi determinado o prosseguimento do processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Como dizia Ruy Barbosa "a justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta." (IN: "Oração aos Moços", 1921).

Depois de apresentar um relatório eivado de vícios, o tucano Antônio Anastasia (PSDB), assistiu seu parecer na Comissão daquela Casa ser   desconstruído publicamente pelos três juristas citados por ele no documento. Os constitucionalistas Lenio Luiz StreckMarcelo Andrade Cattoni de Oliveira e Alexandre Bahia aparecem na peça de Anastasia como se reforçando o ponto de vista do relator.

Num embate entre Anastasia e o advogado geral da União José Eduardo Cardoso, durante uma das oitivas na Comissão do Impeachment do Senado, o mineiro quis, espertamente, dar ares de legalidade a trama golpista, sendo confrontado imediatamente pelo defensor de Dilma Rousseff:  


“O fato de existir direito de defesa formal, não real, onde as pessoas já entram com a convicção formada, indica uma decisão política e não uma decisão imparcial. O senhor (Anastasia) diz que nunca viu golpe com direito de defesa? Eu já vi. Eu já vi injustiça com direito de defesa. Todos os julgamentos mais iníquos da humanidade foram feitos com direito de defesa. Aliás, quando se quer esconder uma iniquidade, se dá o direito de defesa retórico onde as cartas já estão marcadas, onde o jogo já está definido”. (José Eduardo Cardozo – veja aqui).

A destruição da democracia terá um preço colossal. Conforme as palavras proferidas pelo insuspeito professor Paulo Sérgio Pinheiro, integrante do governo FHC e reconhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos, 

“o que vai acontecer é a derrubada de tudo o que se constituiu nos últimos 25 anos em termos de direitos humanos, controle civil das Forças Armadas, fortalecimento dos movimentos sociais e da sociedade civil democrática organizada”. “O perfil do governo golpista simplesmente é um sinal fraco do governo, com práticas de direita e extrema direita, que estarão ainda por vir” (veja aqui). 

O respeitado cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em uma rede social, postou ontem (10/05) uma análise corajosa, típica daqueles que não têm medo em desvelar a trama cujos resultados ainda não conhecemos e que precisa ser reproduzida, quase que na íntegra, aqui: 


Qualquer objeção jurídica ou lógica à decisão é pura perda de tempo. Por isso o golpe fracassou. As sucessivas ilegalidades da força-tarefa da Lava-Jato, com prisões injustificadas, humilhações de investigados, difamações, tortura psicológica de presos, vazamentos operados com oportunismo, incansável repetição de incriminação e degradação de investigados ou mesmo réus em curso de julgamento, linguagem virulenta de procuradores, policiais federais e Procurador-Geral da República, cultivando hostilidade e ódio na opinião pública e, finalmente, o apelo dos homiziados de Curitiba aos movimentos sociais conservadores e mídia golpista para continuado apoio, esquecendo as instâncias judiciárias e de outros poderes a que estão subordinados, substituiu a indumentária de cavaleiros pelo restabelecimento da moralidade pelo descarado uso da força bruta, e só ela, contida nas leis. Não há salvação: Michel Temer é um usurpador e seu governo não deve ser obedecido. Não deve e não o será. O golpe fracassou socialmente e o usurpador só governará mediante violência física, repressão sem disfarce. Ou a sublevação social pela democracia é submetida pela força (e aí o golpe, finalmente, será vitorioso), ou a coerção servirá de combustível à sublevação. Então, de duas uma: ou Michel Temer renuncia e o STF convoca novas eleições ou as forças armadas intervirão. ”
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A MÍDIA, OS RICOS, OS ROUBOS E NOSSA VELHA ORDEM SEMIESCRAVOCRATA


A GLOBO (e os demais veículos do conglomerado midiático brasileiro) SÃO PODRES. Vejam como atuam com os dois pesos e duas medidas:

1. Neymar da Silva Santos Júnior e seu pai são acusados de sonegação fiscal e evasão de divisas no Brasil e na Europa.

Sejamos claros: corrupção no futebol (cartolas, jogadores e empresários) é coisa corriqueira nessas plagas. Só não vê quem não quer. E, dispensam-se outros comentários...

Em entrevista exibida aos quatro ventos na Globo (que pauta os demais veículos da mídia da Casa Grande), pai e filho, os heróis globais brasileiros, retrucam as denúncias e apontam para o promotor brasileiro, acusando-o de arbitrariedade. ESTÃO INDIGNADOS!!!

Obviamente, ninguém deve julgar o garoto-propaganda global antecipadamente. Porém, é muito estranho a produção do álibi pela emissora platinada antes do processamento da denúncia. Seria uma forma de chantagear a justiça - prática feita com perfeição e perversão pela mídia?

E, mais: a Globo opera dessa forma com todas as “personalidades” acusadas pelo MP?

2. DIFERENTEMENTE, quando se trata, por exemplo, de Lula, sua esposa e filhos, a mídia, encabeçada pela Globo, Folha, Estadão e uma revista de fofoca que recuso mencionar aqui produzem uma enxurrada de notícias e comentários afirmando que eventuais investigações  de promotores, delegados e similares - que sempre têm espaço para denunciarem a torto e a direito mesmo sem a produção de provas - como SENTENÇA TRANSITADA E JULGADA. Muito raramente, desmentidos são produzidos em notinhas de rodapé.

A caçada àquele que é uma ameaça real, apesar de todas as suas incoerências, aos anseios das castas tupiniquins produz uma inquisição midiática à brasileira em pleno século 21.

Ninguém deveria estar acima da lei. E nem abaixo dela. Se a justiça operasse de fato e de direito, limites a ação dos folhetim-torquemadas deveria ocorrer: ou para pôr freios à execração pública de um cidadão, que também é ex-presidente, ou para processar as mesmas investigações de todos os ex-presidentes que têm pesadas acusações de desmandos durante seus governos, da mesma forma.

Há uma revista nacional, cujo patrono é Paul Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda do Reich na Alemanha Nazi de 1933 a 1945, que há mais de 30 anos produz semanalmente acusações sem provas... impunemente.

NO BRASIL, VIA DE REGRA, OS RICOS SEMPRE CONSTRUÍRAM SUAS FORTUNAS VIA SONEGAÇÃO FISCAL E ESPOLIAÇÃO DA COISA PÚBLICA: DESDE AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS, PASSANDO PELO REGIME ESCRAVOCRATA E AS BENESSES ADVINDAS COM A REPÚBLICA A MANTER PRIVILÉGIOS PARA UNS POUCOS.

ASSIM, SE FORMARAM AS GRANDES FORTUNAS NACIONAIS E TAMBÉM UMA PARTE DA RIQUEZA DA CLASSE MÉDIA: VIA SONEGAÇÃO, GRILAGEM DE TERRA, CORRUPÇÃO GENERALIZADA NO ESPAÇO PÚBLICO, EVASÃO FISCAL, ETC...

MAS ESSE REGIME INSTITUCIONALIZADO DE SAQUE AO ERÁRIO SÓ É PERMITIDO AOS CONFRADES.
COMO FAZEM PARA INSTITUCIONALIZÁ-LO? PRIMEIRO, PRODUZEM AS LEIS: PORQUE O PODER LEGISLATIVO NO BRASIL SEMPRE FOI TERRA DOS PODEROSOS (PROPRIETÁRIOS DE TERRA, PROFISSIONAIS LIBERAIS, EMPRESÁRIOS). O EXECUTIVO, VIA DE REGRA, TRANSFORMOU-SE NA FEITORIA DO RICOS. E, POR FIM, REGULAMENTADO O ROUBO E O FURTO DO ERÁRIO PARA DOS RICOS, O PODER JUDICIÁRIO OPERA A GARANTIR SEUS PRIVILÉGIOS. Todos a serviço do capitalismo, sustentado pela "política da lei e da ordem", dos governos de direita e esquerda... a punir aqueles que contradizem essa ordem semiescravocrata. Exagero? Vejam a vida de um(a) trabalhador(a): acorda cinco da manhã, pega um busão lotado, trabalha o dia todo, gasta duas horas para chegar de volta em casa no mesmo busão, etc... etc. E ganha menos de 900 reais. Tá com inveja?

Ou seja, estado penal para os pobres; estado constitucional para os ricos.

Pela primeira vez na história desse país, uma legislação, de 2013, passou a punir as empresas que participam de atos de corrupção envolvendo a administração pública. Sancionada em agosto, a lei 12.846 responsabiliza administrativa e civilmente as empresas que se envolverem em episódios de corrupção.

É por isso que alguns tubarões andam visitando as instalações da PF, nos últimos anos. 

Por que isso não ocorreu anteriormente? Culpa da Dilma e do PT ?

Se já tivéssemos uma lei assim há muito tempo, o que estaria acontecendo com a Globo no caso do processo sumido de sua sonegação fiscal, pelo qual só pagou, até agora, uma servidora modesta da Receita Federal?
http://robsonsavio.blogspot.com.br/2016/02/a-midia-os-ricos-os-roubos-e-nossa.html

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