Nas conversas que tive na feira nesta
manhã de sábado,
Datafolha explica por que Moro caça Lula
"Nos
últimos dez dias, Globo, Folha e Estadão republicaram antigos vazamentos da
Lava Jato contra o ex-presidente Lula. Notícias velhas foram requentadas e
servidas como carne fresca a quem perdeu a memória dos desmentidos: uma sede do
Instituto Lula que nunca existiu, uma rodovia na África e o acervo que Lula tem
de guardar por força da lei. Isso se chama publicidade opressiva, violência
inerente ao estado de exceção e essencial aos 'julgamentos pela mídia'",
afirma o jornalista Ricardo Amaral, em artigo; para ele, "não pode ser
coincidência. A ofensiva dos vazadores e seus repórteres amestrados segue-se à
ação da defesa de Lula, que levantou a suspeição de Sérgio Moro para
julgá-lo", além do Datafolha; a pesquisa em que "Lula só
cresceu", diz ele, "ajuda a entender a ofensiva"
17 de
Julho de 2016 às 10:31 // Receba o 247 no Telegram
247 - O jornalista Ricardo Amaral
destaca, em artigo, os pontos que motivam o que chama de "caça" ao
ex-presidente Lula pela grande imprensa, inclusive com fatos requentados. Para
ele, "não pode ser coincidência. A ofensiva dos vazadores e seus repórteres
amestrados segue-se à ação da defesa de Lula, que levantou a suspeição de
Sérgio Moro para julgá-lo", além do Datafolha divulgado neste
sábado 16. A pesquisa em que "Lula só cresceu", escreve Amaral,
"ajuda a entender a ofensiva" contra o petista.
Leia
abaixo a íntegra do artigo:
Lava Jato
atiça a "tiragem" na caçada ao Lula
Como na ditadura, República de Curitiba pauta os jornais para fazer a caveira do inimigo
Como na ditadura, República de Curitiba pauta os jornais para fazer a caveira do inimigo
Nos
últimos dez dias, Globo, Folha e Estadão republicaram antigos vazamentos
da Lava Jato contra o ex-presidente Lula. Notícias velhas foram requentadas e
servidas como carne fresca a quem perdeu a memória dos desmentidos: uma sede do Instituto Lula que nunca existiu, uma rodovia na África e o acervo que Lula tem de guardar por força da lei.
Isso se chama publicidade opressiva, violência inerente ao estado de exceção e
essencial aos “julgamentos pela mídia”.
Não pode
ser coincidência. A ofensiva dos vazadores e seus repórteres amestrados
segue-se à ação da defesa de Lula, que levantou a suspeição de Sérgio Moro para
julgá-lo, por perda da imparcialidade. Essa é a notícia nova do caso, que a
imprensa brasileira escondeu. Deu no New York Times, mas não saiu no Jornal
Nacional.
A ação aponta 12 afirmações de Moro antecipando a
decisão prévia de condenar Lula. Registra os abusos que ele cometeu – da
condução coercitiva sem base legal à divulgação criminosa de grampos
telefônicos. No estado de direito, Moro deveria declinar do caso para outro
juiz, isento, imparcial, condição que ele perdeu em relação a Lula.
O
Datafolha também ajuda a entender a ofensiva. Só Lula cresceu. Tem um terço dos
votos válidos no primeiro turno e mais de 40% no segundo, contra os três
tucanos e a insustentável Marina. Só perde, hoje, para o antipetismo; e debaixo
de uma campanha de difamação sem precedentes.
É preciso
acabar com Lula, fazer sua caveira, antes que ele tenha chance de voltar pelo
voto. E antes que sua defesa desmoralize a Lava Jato. Tem de bater na cabeça da
jararaca. Mas como, se não há crime para acusá-lo? Se há só pedalinhos, obras
de alvenaria, propriedades imaginárias, palestras profissionais, presentes de
governos estrangeiros.
Desde a
reeleição de Dilma (aliás, por isso mesmo), Lula, seus filhos, sua empresa de
palestras e o Instituto Lula tornaram-se alvos de 9 inquéritos do Ministério
Público e da Polícia Federal, 3 proposições de ação de penal, 2 fiscalizações
da Receita e 38 mandados de busca. Quebraram e vazaram seus sigilos bancário,
fiscal e telefônico.
Numa
afronta à Constituição e a princípios universais do Direito, adotados pelo
Brasil em tratados internacionais, Lula é investigado pelos mesmos fatos em
inquéritos simultâneos: da Procuradoria-Geral da República, de procuradores
regionais do Paraná e Brasília e de promotores do Estado de São Paulo. É
tiro-ao-alvo.
Essa
verdadeira devassa – insisto: sem precedentes no Brasil – não encontrou nenhum
depósito suspeito, conta no exterior, empresa de fachada ou contrato de gaveta;
nenhum centavo sonegado, nenhuma conversa de bandido. Nada que associe Lula
direta ou indiretamente aos desvios na Petrobras investigados na Lava Jato ou
qualquer ilegalidade.
Nem mesmo
os réus delatores, que negociam acusações sem provas em troca de liberdade e
(muito) dinheiro, apontaram fatos concretos contra Lula. No máximo, ilações, do
tipo “ele devia saber”, conduzindo à esfarrapada tese do domínio do fato. No
estado de exceção midiática, apela-se à tese da obstrução da justiça (o maldito
direito de defesa), a partir do pré-julgamento de grampos ilegais.
O fato é
que a Lava Jato e a Procuradoria-Geral da República não têm como entregar – na
só-base da prova, da lei e do direito – a mercadoria esperada desde sempre por
seus patrocinadores: Lula na cadeia. Não em julgamento justo, com policias e
procuradores apartidários, juiz natural e imparcial, tribunais fiscalizadores
da primeira instância. Não no estado de direito democrático. Para tirar Lula do
jogo, precisam desesperadamente da cumplicidade dos meios de comunicação; a
Rede Globo à frente e o rebotalho dos impressos na retaguarda. Precisam
promover um julgamento pela mídia, com base na publicidade opressiva. Precisam
espalhar que Lula estaria metido “nessa coisa toda”; silenciar e até intimidar
quem duvide disso, para sancionar uma condenação sem prova.
Quem foi
jornalista na ditadura tem amarga lembrança de colegas que serviam à repressão
(alguns em dupla jornada, como na Folha da Tarde, da família Frias). Noticiavam
assassinatos de presos como “atropelamentos”, tratavam torturas como “rigorosas
investigações”. Faziam a caveira dos “subversivos”. Eram chamados jornalistas
de “tiragem” – a serviço dos “tiras”, é claro, não da verdade.
Recordo
sem intenção de ofender os jornalistas “investigativos” de hoje que comem na
mão dos “investigadores” anônimos. Podem acreditar sinceramente que contribuem
para “combater a corrupção”. Ganham as manchetes, mas abrem mão do jornalismo,
que é a busca da verdade. Quando a meganha pauta e o repórter obedece,
cegamente, quem perde é a notícia. E perde a democracia.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/244419/Datafolha-explica-por-que-Moro-ca%C3%A7a-Lula.htm
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