O Partido dos Trabalhadores completa seus 35 anos
de fundação neste 10 de fevereiro, institucionalizando todas as lutas por
democracia, pelos direitos dos trabalhadores e por justiça social iniciadas
muito antes disso por companheiras e companheiros que continuam inspirando
nossa luta. Se o filme dos 35 anos de vida do nosso partido fosse rodado neste
momento, veríamos as conquistas em curso, especialmente as que combatem a
miséria e a fome, as que democratizam a educação e a cultura e as que lutam nas
instituições, nas entidades, nas casas legislativas e nas ruas contra a
violência, o preconceito e a discriminação às mulheres, aos homossexuais e às
chamadas minorias invisíveis a um sistema de consumo que consome o próprio ser
humano e sua capacidade de indignar-se contra as injustiças. Temos estas
conquistas, ainda que parciais, em nosso currículo. E notem, não é pouco. O
fosso social é que tem 500 anos de aprofundamento.
Quando o PT foi escolhido democraticamente, com
Lula e depois com Dilma para governar o Brasil, as injustiças sociais e a
miséria campeavam nossas periferias e dizimavam nossas crianças pela fome ou
pelas doenças cujos focos estavam no esgoto e na falta de saneamento quase que
generalizado em todas as regiões. O desemprego batia recordes que nos
envergonhavam; o acesso à escola básica e à universidade não era coisa para
‘qualquer um’, num círculo vicioso que penalizava o filho e a filha do
trabalhador e da trabalhadora, retroalimentando um sistema de geração de mão de
obra barata para muitos setores. A falta de atendimento na saúde e de acesso a
medicamentos a baixo custo encurtava a vida dos brasileiros. A juventude das
periferias crescia sem perspectiva e enxergava um futuro nebuloso, porque logo
via o “não papel” reservado a ela na sociedade.
Permitam-me relembrar o governo Edinho Silva em
Araraquara, entre 2001 e 2008, do qual fiz parte ao lado de companheiras e
companheiros que transformaram uma cidade que nunca ouvira falar em
participação popular na Morada da Cidadania, com seus conselhos e mecanismos
que deram vez e voz à população. Uma marca de um governo petista que virou modelo
de Orçamento Participativo, de inclusão social, de combate às discriminações,
inserção dos jovens na vida cultural e esportiva, de defesa das mulheres e de
abertura de horizontes para a comunidade negra, a LGBT, os portadores de
deficiência… Os avanços levaram Araraquara a tornar-se a ‘melhor cidade do
Brasil em qualidade de vida’ em 2007. Enfim, o PT já mostrou inúmeras vezes ser
possível concretizar o sonho que gestou e fez crescer este partido.
Mas também tropeçamos. Passamos por momentos
difíceis ontem e hoje; crescemos em número e precisamos crescer em formação e
qualidade para não desviarmos nosso olhar dos objetivos que nos reuniram em
torno de um partido que deve traduzir a nossa própria honra. A ética não é um
bem transitório. É um bem maior que o Partido dos Trabalhadores defende. Está
na sua gênese. E isso não é pouco em suas exigências aos seus filiados. Por
isso precisamos ter coragem para enfrentar os debates postos à mesa, com
serenidade. Estas serão nossas aliadas de toda hora para transmutar o desgaste
que se apresenta.
Penso que a tarefa que nos cabe, neste momento, é
não nos desviarmos do caminho, termos firmeza para continuar defendendo as
nossas convicções e apurarmos nosso senso crítico para evoluir enquanto
agremiação política e democrática.
Nossa missão mais urgente é mostrar à sociedade a
necessidade de uma reforma política com participação popular. Entendo que são
muitas as reformas necessárias, de instituições e de códigos que regem a vida
em sociedade, mas a política inclui o sistema eleitoral que hoje privilegia os
detentores do capital e perpetua as desigualdades na escolha dos representantes
da sociedade. Para mim, num processo que distorce a essência democrática,
facilita a corrupção e nutre o malfeito na esfera pública, ramificando-se na
privada. É preciso escolher de que lado ficar e estimular nossas comunidades e
movimentos sociais a defenderem a reforma com plebiscito e participação
popular. Este será o nosso papel mais urgente, para que a reforma política
possa abrir um novo caminho em que todos os setores da sociedade tenham a
certeza de estarem representados nas Casas Legislativas e em todas as esferas
da vida pública. Exatamente como deve ser a democracia representativa.
PT, estes filhos teus não fugirão à luta.
Márcia Lia, deputada estadual e presidenta do PT em
Araraquara (SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário