Para
dirigente da Frente Única dos Petroleiros, companhia sofre 'cerco pesado dos
que querem fazer voltar o modelo de concessão que fragiliza a economia nacional
e a soberania energética do país'
Saída de
Graça Foster da companhia foi definida em reunião com a presidenta Dilma
Rousseff
São Paulo
– O nome de quem comanda a Petrobras é menos importante do que as políticas de
Estado e de governo, e a crise permanente associada à Operação Lava Jato
encobre dados e políticas muito mais relevantes do que a corrupção que as
manchetes da “grande imprensa” se esforçam por renovar cotidianamente. A
opinião é do diretor de Relações Internacionais da Federação Única dos
Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes. Graça Foster já teria acertado com a
presidenta Dilma Rousseff a saída da presidência da empresa.
A
presidenta Dilma Rousseff se reuniu com Graça Foster, hoje (3), durante parte
da tarde, no Palácio do Planalto, em Brasília. Graça deixou o local por volta
das 17h20 sem falar sobre a reunião e retornou ao Rio de Janeiro. A assessoria
de imprensa do Planalto informou que não se pronunciaria sobre o encontro.
“Achamos
que as pessoas são menos importantes do que políticas. O que nós estamos
vivendo, nos últimos meses, é um cerco pesado à empresa, por parte de muitos
setores”, diz Moraes. “Eu destacaria os grandes meios de comunicação, que dão
mais destaque à Operação Lava Jato do que ao fato de a Petrobras, em 2014, ter
se tornado a maior produtora de petróleo com capital aberto do mundo, superando
a ExxonMobil.”
No
terceiro trimestre do ano passado, a companhia brasileira se tornou a maior
produtora de petróleo do planeta, superando a norte-americana ExxonMobil, que
produziu 2,065 milhões de barris de petróleo por dia, contra 2,209 milhões da
brasileira.
Moraes
enumera algumas informações das quais pouco ou quase nada se fala, como a
refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que só é citada no noticiário para
ilustrar denúncias e suspeitas. “Fazia 36 anos que não se inaugurava uma
refinaria no Brasil. Abreu e Lima é uma grande notícia para o país,
principalmente para o Nordeste. Disso tudo ninguém fala. Só se fala de Abreu e
Lima para acusar. E do pré-sal, que é um sucesso sem precedentes na indústria
petrolífera do mundo, também ninguém fala.”
A
Petrobras receberá pela terceira vez, em maio de 2015, em Houston (EUA), o
prêmio OTC Distinguished AchievementAward for Companies, Organizations, and
Institutions. O prêmio é um reconhecimento ao conjunto de tecnologias
desenvolvidas para a produção da camada pré-sal.
O diretor
da FUP lembra ainda que a Petrobras tem um corpo de 85 mil trabalhadores
diretos e 300 mil indiretos.
Moraes
afirma que a FUP não é contra apurações de denúncias. “Mas a Petrobras é muito
maior do que isso. Tudo isso tem contribuído para prejudicar a empresa e sua
imagem, prejudicá-la no mercado de capitais, e até mesmo na captação de
recursos”, acredita o dirigente da FUP.
Para ele,
o ataque sistemático à Petrobras é feito pelos “que querem fazer voltar o
modelo de concessão que fragiliza a economia nacional, a soberania energética
do país, transferindo o recurso natural para outras nações”. A Lei n°
12.351/2010 introduziu o regime de partilha. Resumidamente, por esse modelo a
produção de um determinado campo de exploração é compartilhado pelo consórcio
vencedor do certame e pela União. O leilão é vencido por quem oferecer ao
governo a parcela maior.
Para o
dirigente, “o pilar dessa disputa (contra a companhia petrolífera do Brasil) é
formado pelo pré-sal e pelo modelo de partilha adotado no país a partir da lei
2010”.
Lideranças
identificadas com o PSDB ou do próprio partido defendem a extinção do modelo de
partilha. No final do ano passado, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo mencionou
o tema, em entrevista à TVT, afirmando que a mudança do regime para o de
concessão, na realidade, esconde interesses maiores. “Está lá no Congresso o
senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) clamando pela mudança do
modelo de partilha para o modelo de concessão.
Concessão é adequado para quando você vai descobrir as
reservas de petróleo. Você não pode aplicar isso a reservas
já descobertas, seria uma impropriedade. Isso envolve uma questão
geopolítica, de interesse, no fundo, de se privatizar ao máximo
a exploração do petróleo e tirar do controle da Petrobras”, disse Belluzzo.
Durante a
campanha presidencial, o candidato tucano Aécio Neves defendeu a volta ao
regime de concessão anterior a 2010.
Enquanto
isso, para embasar suas informações, a imprensa foca permanentemente as
denúncias de corrupção e oscilações da companhia na Bolsa de Valores. Se as
ações caem, como na semana passada, o fato é atribuído a denúncias e problemas;
se sobem, como entre ontem e hoje (3), a informação é também associada a
problemas ou fatos a eles relacionados, como a queda da presidente Graça
Foster.
Na quinta
e sexta-feira as ações da Petrobras caíram mais de 9,5%. Já esta semana o
movimento foi inverso e, só nesta terça-feira, a estatal brasileira teve um
crescimento enorme de 15%.
“As ações
caírem muito é normal. Oscilações nas bolsas são especulações. Depois eles
fazem uma ‘realização de lucros’, como falam. É muito comum isso”, lembra
Moraes.
Ao
comentar o sobe e desce das ações à RBA, incluindo as da Petrobras,
durante o período eleitoral, no ano passado, o professor Giorgio Romano
Schutte, da Universidade Federal do ABC, explicou: “Esses são lucros especulativos.
O investidor compra na baixa, começa a puxar o preço para cima, cria um clima
de alta, muitos vão atrás dele, e aí ele vende na alta. Chega um momento em que
esse 'primeiro especulador' sai fora e começa a vender, e faz lucro. Quem
comprou primeiro vai vender e lucrar.”
Leia mais:
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2015/02/petrobras-para-fup-pessoas-sao-menos-importantes-do-que-as-politicas-8670.html
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