Conservadores
preferem uma crise monumental a se preparar melhor, fazer programas mais
inteligíveis e dizer a verdade sobre seus propósitos
Novo
Congresso: faz tempo que a direita desistiu da democracia. Ela quer mesmo o
ferrolho sobre o povão
Derrotada
nas urnas, não há mais dúvida nem outro caminho: a direita vai para o
impeachment. Prefere uma crise monumental a se preparar melhor, fazer programas
mais inteligíveis, dizer a verdade sobre seus propósitos (deter a melhor
repartição da renda nacional e voltar à subordinação internacional ao
capitalismo central), acreditar mais em expor programas do que em golpes de ocasião
(que foi o que sempre fizeram), enfim, a direita continua acreditando em
paralisar o Brasil e vender seus recursos e dedos em troca dos anéis de seus
privilégios.
O parecer
de Ives Gandra Martins, apoiado ridiculamente (citado no artigo) por Modesto
Carvalhosa, ex-presidente da Adusp e dirigente da greve de 1979, que assim
torra em praça pública seu passado de democrata, é límpido nesse sentido. Não
há o que sofismar: a direita vai para o impeachment. Vai se basear de novo no
“domínio do fato” que importou, solerte e malandramente, de jurista alemão, que
denunciou a impertinência da importação. Mas não importa.
Ainda
mais quando a direita está animada pela votação que elegeu o deputado Cunha na
Câmara de Deputados. E quer ir logo para o impeachment: quanto mais demore no
seu propósito, pior será para ela, porque os poderes se recomporão, se
aglutinarão, se reacomodarão etc.
Ou seja,
o clima está mais para 54 do que para 64. A direita quer implodir o governo,
“legalmente”, e depois contar com as Forças (Forcas?) Armadas para garantir a
“transição”.
Faz tempo
que no Brasil a direita desistiu da democracia. Ela quer mesmo o ferrolho sobre
o povo, sobretudo sobre o povão, e que este fique entregue à sua condição
subalterna sem rota nem voto. Política é para os sabichões das elites, os
‘pundits’ (essa turma gosta de ser chamada em anglo-saxão), o resto é mesmo
“demagogia”, “populismo”, “clientelismo”. Só o assalto ao Estado que a direita
promove é “virtude”.
A
questão, no entanto, não é esta. A questão é o que farão as esquerdas. Ficarão
abestalhadas, como em 54, apoiando o massacre do governo de Vargas até seu
suicídio (a hipótese seria a queda e o novo exílio), ou vão lutar pelo que se
conquistou nesta última década? Ficarão no ramerrame de atacar o governo supostamente
pela esquerda, fazendo coro com a UDN, enfraquecendo-o, enquanto assistem
algo passivamente a ofensiva da direita?
Acho bom
levar em conta: chegamos à batalha decisiva. A direita perdeu no Judiciário:
armou tudo, retóricas, acusações, condenações, mas não conseguiu levar. Perdeu
nas urnas, e quando tinha certeza de que ia ganhar. As expressões de Merval
Pereira e de Aécio Neves na TV foram eloquentes, sem falar no aviãozinho que
decolou de São Paulo vitorioso para chegar em BH derrotado, com os próceres do
PSDB: alguns chegaram à desfaçatez de simplesmente a retornar com o rabo (e a
cara) entre as pernas. Agora a direita, como no Paraguai, vai apostar no
Congresso hostil. A velha mídia vai fazer seu papel esclerosado, mas esperto,
de sempre: como em 64, ou 54, criar a impressão de que há uma “comoção
nacional” contra o governo, ocultando o apoio popular a este.
Como
disse antes, o fundamental hoje é o que farão as esquerdas. O PT está meio
congelado, arrumando as arestas internas. Não sofreu uma derrota nas eleições,
embora tenha visto seu alcance institucional encurtado. Mas o clima de “em
tempo de murici cada um cuide de si” está instalado. Só que este clima pode
levar à desarticulação e à inércia. A extrema-esquerda parece querer pedir
asilo na Grécia, achando que há em Atenas um radicalismo que falta em Brasília,
quando na verdade o governo da Syriza (sabiamente) dá todas as mostras de que
quer negociar com o establishment hegemônico na União Europeia.
Esta é a
hora de cerrar fileiras, não de alimentar dissensões do lado das esquerdas.
Vamos falar claro: nós sabemos que a direita, unida, jamais será vencida pela
esquerda desunida. Vamos deixar de falastrices e fanfarronadas. Sim, criticar é
preciso. Mas de dentro da trincheira em defesa do que o povo brasileiro
conquistou. E que perderá, caso a direita consiga seu propósito de subverter a
democracia no tapetão, e derrubar o governo legitimamente eleito. Como, por
outros meios, fez em 54 e em 64.
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-do-velho-mundo/2015/02/a-direita-vai-para-o-impeachment-4235.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário