A criação e
ampliação de direitos ocorridas durante os governos do PT são dois dos motivos
que fazem as elites brasileiras e muita gente iludida dar um novo golpe de
estado, nestes tempos, um golpe parlamentar.
Mas, como você sabe, pela Presidência apoiar a criação ou ampliação de direitos, como o décimo terceiro salário e
o estatuto da mulher casada, outro golpe já foi aplicado, naquela época, um
golpe civil-militar.
Daqui a uns poucos meses, muita gente
trabalhadora e ex-trabalhadora, @s aposentad@s, e de outr@s tipos segurad@s da
Previdência Social receberão o 13º salário.
Milhões, então, irão
para o chamado consumo ou para pagar dívidas dele.
Mas... O mais
interessante é que mesmo quando o suado dinheiro vai parar no bolso da elite
financeira, as elites brasileiras, com o apoio de parte da imprensa, reclamam e
combatem a ampliação ou a criação de direitos humanos.
Foi o que aconteceu
com a “gratificação salarial” ou “13º salário” ou “gratificação natalina’, que
aniversaria nesse mês, mais precisamente, aniversariou nesse 13 de julho.
Para relembrar a
revista Fórum publicou uma boa matéria a respeito das lutas da classe
trabalhadora para se criarem ou se ampliarem direitos, e do medo que as elites tentam
impor à população contra a criação ou a ampliação desses direitos. Na
disseminação do medo, contam com a “ajuda” da imprensa grande brasileira.
“Em
seu aniversário, relembre a luta dos trabalhadores pelo 13º salário
Avanços trabalhistas, porém, não se alcançam
pacificamente. Semanas antes da aprovação da medida, o jornal O Globo publicou
uma reportagem em que patrões e economistas previam que o 13º sobrecarregaria
as empresas e pressionaria a inflação. Para forçar a aprovação, sindicatos de
trabalhadores organizaram abaixo-assinados, passeatas, piquetes e greves.
Se fim de ano é sinônimo de dinheiro extra no
bolso, os créditos precisam ser dados a uma lei que chegou aos 54 anos na
semana retrasada. Em 13 de julho de 1962, o presidente João Goulart assinava a
criação do 13º salário.
No artigo primeiro, a lei prevê: “No mês de
dezembro de cada ano, a todo empregado será paga, pelo empregador, uma
gratificação salarial, independentemente da remuneração a que fizer jus”.
Também chamado de gratificação de Natal, o 13º é
uma das conquistas históricas dos brasileiros no campo trabalhista, comparável
ao salário mínimo, às férias remuneradas e ao FGTS.
Até então, o bônus natalino era um presente que
algumas empresas davam, por iniciativa própria, aos funcionários. Muitas vezes,
o valor era inferior ao do salário mensal.
O autor do projeto de lei do 13º obrigatório foi o
deputado federal Aarão Steinbruch, um advogado que antes de ingressar na
política havia sido consultor de sindicatos.
Avanços trabalhistas, porém, não se alcançam
pacificamente. No início dos anos 1950, uma proposta parecida havia chegado à
Câmara mas foi logo derrubada.
Semanas antes da aprovação do texto de Steinbruch,
em abril de 1962, o jornal O Globo publicou uma reportagem em que patrões e
economistas previam que o 13º sobrecarregaria as empresas e pressionaria a
inflação. O título: “Considerado desastroso para o país o 13º mês de salário”.
Para forçar a aprovação do projeto, sindicatos de
trabalhadores organizaram abaixo-assinados, passeatas, piquetes e greves.
Representantes viajaram à recém-inaugurada Brasília para tentar convencer
deputados, senadores e o ministro do Trabalho. Nos protestos, houve presos.
Mercado aquecido - Cinco décadas passaram, e os temores catastrofistas
jamais se confirmaram. Não há notícia de empresa que tenha ido à ruína por
causa do 13º.
O procurador José de Lima Ramos Pereira,
responsável no Ministério Público do Trabalho pelo departamento que combate
fraudes trabalhistas, explica que o 13º não é um dispêndio extra para os
patrões:
— O empresário não tira do próprio bolso o dinheiro
das horas extras, das férias ou do 13º. Inclui esses custos em seu produto ou
serviço, repassa para o consumidor final. O 13º não é caridade do empresário.
Pelas regras atuais, o salário extra precisa cair
na conta bancária em duas parcelas. A primeira metade, entre fevereiro e
novembro. A segunda, em dezembro, até o dia 20.
O que se deu foi justamente o inverso daquelas
previsões pessimistas. O salário extra tem se mostrado altamente benéfico para
a economia.
Em 2011, pelas estimativas do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), só a segunda
parcela do 13º injetou R$ 118 bilhões no mercado — 3% do produto interno bruto
(PIB). O estudo não contabilizou o adiantamento.
Para o governo, é dinheiro que aquece o mercado,
eleva a arrecadação de impostos e, no atual contexto, ajuda a proteger o país
da crise internacional. Para o comércio e a indústria, é motivo de festa.
Com a gratificação natalina, as famílias pagam as
despesas típicas de início de ano — IPTU, seguro do carro, IPVA, material
escolar —, quitam dívidas e, naturalmente, compram os presentes de Natal.
No ano passado, 78 milhões de brasileiros receberam
o 13º. Fazem parte desse grupo todos os aposentados, pensionistas e trabalhadores
do mercado formal — incluindo domésticos, rurais, temporários e avulsos.
Projetos de lei - O Senado estuda projetos que tratam do 13º.
Um deles, do ex-senador Sérgio Zambiasi, eleva o
valor que o patrão deposita na conta do funcionário. A proposta (PLS 685/07)
livra o salário extra do desconto do Imposto de Renda e da contribuição previdenciária.
Em outra direção, dois projetos determinam que os
brasileiros que recebem do governo o benefício de prestação continuada (BCP)
façam jus a uma 13ª parcela.
No valor de um salário mínimo, o BCP é pago aos
deficientes e idosos pobres que não podem ser sustentados por si sós nem por
suas famílias. Divide-se em 12 parcelas.
O primeiro projeto (PLS 165/10) é do ex-senador Mão
Santa. O segundo (PLS 79/11), do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).
“Diferentemente dos trabalhadores, que atravessam
essa época [o fim de ano] com alguma tranquilidade, devido à conquista da
gratificação natalina, os beneficiários da Assistência Social vivem seu pior
momento, diante do acúmulo de dívidas e ansiedade”, argumenta Mão Santa.
Problemas envolvendo o 13º salário são
relativamente comuns, segundo o Ministério Público do Trabalho. Há empresas que
não dividem o valor em duas parcelas, que pagam o valor errado (ignorando horas
extras habituais e adicional de insalubridade, por exemplo) e que simplesmente
não depositam o salário extra.
Os prejudicados devem buscar, primeiro, o
departamento de recursos humanos da empresa; depois, o sindicato; e, por fim, o
Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho.
Patrões viam abono de Natal como gorjeta, diz
ex-metalúrgico de 83 anos - O Jornal do Senado localizou em São Bernardo do
Campo, na Grande São Paulo, um ex-metalúrgico que participou das grandes
passeatas nos anos 1950 e 1960 pela obrigatoriedade do 13º salário.
Hoje com 83 anos, Miguel Terribas Rodrigues
trabalhou de 1943 a 1985 na siderúrgica Aliperti, na capital paulista.
Foi seu primeiro e único emprego. Entrou aprendiz, numa época em que os
salários eram semanais, e saiu aposentado.
Por telefone, ele concedeu ontem a seguinte
entrevista:
Antes da lei do 13º, como era o fim de ano na siderúrgica em que o senhor trabalhava?
Antes da lei do 13º, como era o fim de ano na siderúrgica em que o senhor trabalhava?
O abono de Natal dependia do humor da chefia.
Alguns chefes não davam nada. Outros até davam alguma coisa, por livre e
espontânea vontade, mas costumava ser muito pouco. Os patrões entendiam que o
abono de Natal era uma gorjeta — não era obrigatória e era no valor que mais
lhes fosse conveniente. Foi nas assembleias do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo que surgiu a ideia de incluir o abono de Natal na pauta de
reivindicações dos trabalhadores. Assim, toda vez que pressionávamos os patrões
por aumento de salário, pedíamos também o abono. Mais tarde, passamos a lutar
para que o abono de Natal se tornasse lei, direito.
Participei de passeatas no bairro da Liberdade,
onde ficava a sede do sindicato, na Praça da Sé e na Avenida Paulista.
O que mudou quando o 13º se tornou obrigatório?
Foi ótimo para os trabalhadores. Hoje, quem não
conta os dias para receber o abono de Natal?
Porém, como naquela época era novidade e não estávamos acostumados a tanto dinheiro, muitos companheiros não souberam aproveitar. Gastavam tudo de uma vez, desperdiçavam. Mas eu não. Eu soube tirar proveito. É claro que com o abono de Natal eu também tomava uma cervejinha e comprava o presente de Natal das crianças, mas não jogava fora. Guardava a maior parte, economizava. Com ele, comprei um terreno e construí minha casa humilde. Agora que estou velho e não posso trabalhar, vejo que foi importante ter usado bem os abonos de Natal.
Porém, como naquela época era novidade e não estávamos acostumados a tanto dinheiro, muitos companheiros não souberam aproveitar. Gastavam tudo de uma vez, desperdiçavam. Mas eu não. Eu soube tirar proveito. É claro que com o abono de Natal eu também tomava uma cervejinha e comprava o presente de Natal das crianças, mas não jogava fora. Guardava a maior parte, economizava. Com ele, comprei um terreno e construí minha casa humilde. Agora que estou velho e não posso trabalhar, vejo que foi importante ter usado bem os abonos de Natal.
O que o senhor sente quando lembra que participou
de passeatas históricas pelo 13º?
Aquelas passeatas mostram a força dos metalúrgicos.
Nós sempre dávamos o primeiro passo, e as demais categorias nos acompanhavam
depois. Eu me sinto muito satisfeito de ter participado disso tudo, muito
orgulhoso.”
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