Se
fôssemos acreditar na mídia e nos institutos de pesquisa quase nada mudaria.
Mas os fatos reais se opõem à blindagem e ao silêncio desinformante de parte da
mídia grande de seus institutos de pesquisa.
Teriam,
mesmo falhado!?.
As
informações ‘desinformantes’ permitem que as pessoas sejam enganadas, não por
pura má-fé de cada uma, mas pela boa-fé que creditam às desinformações,
decorrentes do silêncio com o qual a mídia grande procura proteger os seus
interesses ou os dos que bem representa. Inclusive, já usam os tais ‘datanúmeros’
ou institutos pesquisadores para sutilmente colaborarem no viés desinformante,
com informações que lhes interessam.
Um dos
problemas é que milhões de pessoas só leem ou ouvem o manchetômetro
despolitizante e propagador das informações que, mesmo sendo verdadeiras, só
interessam a seus pouquíssimos produtores e distribuidores. Todavia,
o descrédito dela, mídia, já se percebe enorme e está aumentando, com a
alternativa das redes sociais e da chamada imprensa alternativa. A implantada desinformação
já chama a atenção.
Se
tomarmos como comparação a eleição estadunidense, veem-se pessoas debatendo algo
que realmente não lhes interessa e não compreendem, mas continuam no silêncio
sobre o saneamento básico, por exemplo, a qualidade da escolarização própria e
de seus filhos e filhas, e até achando que o salário mínimo realmente está alto,
impagável. Mas “eles (determinada família) precisa(sic) de empregada, pois,
além de trabalhar(sic), ainda têm que levar os filhos pró(sic) colégio”, conforme
ouvido de uma empregada doméstica que ganha exatos R$400,00, por mês.
A matéria
publicada na revista Fórum que você lerá a seguir poderá lhe dar algumas pistas. Leia e reflita: “Sete propostas de Donald Trump que a mídia censurou
e que explicam a vitória dele
O jornalista espanhol Ignacio Ramonet analisa a vitória do republicano à Presidência dos EUA.
A vitória de Donald Trump (como o Brexit no Reino
Unido ou a votação pelo ‘No’ na Colômbia) significa, primeiro, mais uma gigante
derrota dos grandes meios de comunicação dominantes e dos institutos de
pesquisas de opinião. Mas significa também que toda a arquitetura mundial
estabelecida após a Segunda Guerra Mundial está sendo transformada e está em
decadência. As cartas da geopolítica voltam a ser distribuídas, e outra partida
começa. Entramos em uma nova era com apenas uma certeza: “o desconhecido”.
Agora tudo pode acontecer.
Como Trump conseguiu inverter uma tendência que o
tinha como perdedor e se impôs na reta final da campanha eleitoral? Esta figura
atípica, com suas propostas grotescas e suas ideias sensacionalistas, já tinha
contrariado todas as previsões. Diante de pesos pesados da política como Jeb
Bush, Marco Rubio ou Ted Cruz, que contavam ainda com o apoio do establishment
republicano, pouquíssimos acreditavam ele iria vencer as eleições primárias do
Partido Republicano, mas ele superou seus adversários e os reduziu a cinzas.
Há de se entender que, desde a crise financeira de
2008 (da qual ainda não saímos), nada mais é igual em lugar nenhum. Os cidadãos
estão profundamente desencantados. A própria democracia, como modelo, tem
perdido credibilidade. Os sistemas políticos têm sido sacudidos até as raízes.
Na Europa, por exemplo, tem se multiplicado os tremores eleitorais (e o Brexit
foi somente um deles). Os grandes partidos tradicionais estão em crise. E por
todas partes se percebe o ascenso de grupos de extrema direita (na França, em
Áustria e nos países nórdicos) ou de partidos antissistema e anticorrupção
(Itália, Espanha). A paisagem se mostra radicalmente transformada.
O fenômeno tem chegado aos Estados Unidos, um país
que já conheceu, em 2010, uma onda populista devastadora, representada pelo
então Tea Party. A vitória do multimilionário Donald Trump na Casa Branca
prolonga tal e se constitui uma revolução eleitoral que nenhum analista soube
prever. Embora ainda sobreviva, nas aparências, a velha rivalidade entre democratas
e republicanos, a vitória de um candidato tão heterodoxo como Trump se
apresenta como um verdadeiro terremoto.
Seu estilo direto, grotesco e a sua
mensagem maniqueísta e reducionista, apelando aos baixos instintos de certos
setores da sociedade, muito diferente do tom habitual dos políticos
estadunidenses, tem lhe conferido uma carga de autenticidade aos olhos do setor
mais decepcionado do eleitorado da direita. Para muitos eleitores indignados
com o “politicamente correto”, que acham que já não se pode dizer o que se
pensa sob a pena de ser acusado de racista, a “palavra livre” de Trump em
relação aos latinos, aos imigrantes e aos muçulmanos é percebida como um
desabafo autêntico.
Nesse sentido, o candidato republicano soube
interpretar o que poderíamos denominar de “rebelião das bases”. Melhor que
ninguém, ele percebeu as discordâncias cada vez maiores entre as elites
políticas, econômicas, intelectuais e midiáticas, por uma parte, e as bases do
eleitorado conservador, por outra. Seu discurso violentamente anti-Washington e
anti-Wall Street seduziu, em particular, os eleitores brancos, pouco cultos e
empobrecidos pelos efeitos da globalização econômica.
É preciso apontar que a mensagem de Trump não é
semelhante a do partido neofascista europeu. Não é um ultradireitista
convencional. Ele mesmo se define como um “conservador com sentido comum” e sua
posição, no espectro da política, situaria-se mais exatamente à direita da
direita. Empresário multimilionário e estrela superpopular da televisão, Trump
não é contrário ao sistema, tampouco um revolucionário, obviamente. Ele não
critica o modelo político em si, mas os políticos que o estão dirigindo. Seu
discurso é emocional e espontâneo. Apela aos instintos, às tripas, não ao
cérebro ou à razão. Fala para essa parte do povo estadunidense entre a qual tem
começado a calar o desânimo e o descontentamento. Se dirige às pessoas que
estão cansadas da velha política, da “casta”, e promete injetar honestidade no
sistema político, renovar nomes, rostos e atitudes.
Os meios de comunicação têm dado uma grande atenção
a algumas de suas declarações e propostas mais odiosas e absurdas. Recordemos,
por exemplo, sua afirmação de que todos os imigrantes ilegais mexicanos são
“corruptos, delinquentes e estupradores”. Ou seu projeto de expulsar os 11
milhões de imigrantes ilegais latinos, os quais quer colocar em ônibus e
expulsar do país, em direção ao México. Ou sua proposta inspirada no seriado
“Game of Thrones” de construir um muro de 3.145 quilômetros ao longo dos vales,
montanhas e desertos na fronteira com o México para impedir a entrada de
imigrantes latinoamericanos, com um orçamento de US$ 21 bilhões financiado pelo
governo mexicano. Nessa mesma lógica, também anunciou que seria proibido o
ingresso de todos imigrantes muçulmanos no país, e atacou com veemência os pais
de um militar estadunidense de credo muçulmano, Hamayun Khan, morto em combate
em 2004, no Iraque.
Trump também afirmou que o matrimônio tradicional,
formado por um homem e uma mulher, é “a base de uma sociedade livre”, e
criticou a decisão do Tribunal Supremo, que considerou o matrimônio entre
pessoas do mesmo sexo um direito constitucional. Trump apoia as chamadas “leis
de liberdade religiosa”, impulsionada pelos conservadores em vários estados,
para negar serviços públicos às pessoas LGBT. Sem esquecer as suas declarações
sobre o “engano” da mudança climática que, segundo Trump, é um conceito “criado
por e para os chineses, para que o setor manufatureiro estadunidense perca
competitividade”.
Essa lista de disparates ruins e detestáveis tem
sido, repito, massivamente difundida pelos meios de comunicação dominantes não
só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. E a principal pergunta que muitas
pessoas se fazem é: como é possível que uma figura com tão lamentáveis ideias
consiga uma audiência tão considerável entre o eleitorado estadunidense que,
obviamente, não pode estar lobotomizado? Algo não se explica.
Para responder a essa pergunta, a gente teve que
furar a muralha informativa, analisar mais de perto o programa completo do
candidato republicano e descobrir os sete pontos fundamentais ele que defende,
mas que foi silenciado pela grande mídia de todo o mundo:
1) Os jornalistas não perdoam, em primeiro lugar, que
se ataque de frente o poder midiático. Eles o atacam constantemente porque
Trump estimula o público a vaiar os meios de comunicação desonestos. Trump
afirma: “Não estou competindo contra Hillary Clinton, estou competindo contra
os corruptos dos meios de comunicação”. Em um recente tweet, por exemplo, ele
escreveu: “Se os repugnantes e corruptos meios me cobrissem de forma honesta e
não atribuíssem significados falsos às palavras que digo, estaria vencendo
Hillary por uns 20%[de diferença]”.
Por ser considerada injusta ou parcial a cobertura
midiática, o candidato republicano não hesitou em retirar as credenciais de
imprensa de vários importantes veículos de comunicação para cobrir seus atos de
campanha. Entre eles, The Washington Post, Politico, Huffington Post e
BuzzFeed. Ele se atreveu a atacar até a Fox News, a grande rede de comunicação
da direita panfletária, ainda fosse seu candidato favorito…
2) Outra razão pela qual os grandes meios atacaram
Trump com fúria é porque ele denunciava a globalização econômica, convencido de
que esta acabou com a classe média. Segundo ele, a economia globalizada é
falida e atinge cada vez mais pessoas. Ele lembra que, nos últimos quinze anos,
nos Estados Unidos, mais de 60 mil fabricas tiveram que fechar suas portas e
quase cinco milhões de empregos industriais bem remunerados desapareceram.
3) É um fervoroso protecionista. Ele propõe aumentar
as taxas sobre todos os produtos importados. “Vamos recuperar o controle do
país. Faremos com que os Estados Unidos voltem a ser um grande país”, afirmou
repetidamente, retomando o seu slogan da campanha.
Partidário do Brexit, Donald Trump tem desvelado
que, uma vez eleito presidente, tratará de tirar os Estados Unidos do Tratado
de Livre Comercio da América do Norte (NAFTA, em sua sigla em inglês). Também
criticou fortemente o Acordo de Associação Transpacífico (TPP em sua sigla em
inglês), e assegurou que também afastará o país desse projeto: “O TPP seria um
golpe mortal para a indústria manufatureira dos Estados Unidos”.
Em regiões como o rust belt, o “cinturão da
ferrugem” do norte do país, onde se viu a maior quantidade de saídas e
fechamentos de fábricas, o que levou a altos níveis de desemprego e de pobreza,
a mensagem de Trump tem calado fundo.
4) O mesmo efeito tem seu rechaço aos ajustes
neoliberais em matéria de seguridade social. Muitos eleitores republicanos,
vítimas da crise econômica do 2008 ou que têm mais de 65 anos, precisavam se
beneficiar da Social Security (aposentadoria) e do Medicare (seguro de saúde)
que o atual presidente Barack Obama criou e que outras lideranças republicanas
desejavam suprimir. Trump tem prometido não mexer nos avanços sociais, baixar o
preço dos medicamentos, ajudar resolver os problemas dos “sem teto”, reformar a
situação fiscal dos pequenos contribuintes e eliminar os juros federais que afetam
73 milhões de casas modestas.
5) Contra a
arrogância de Wall Street, Trump propõe aumentar significativamente os juros
dos corretores de bolsa que ganham fortunas, e apoia o reestabelecimento da Lei
Glass-Steagall. Aprovada em 1933, em plena Grande Depressão, esta lei rachou a
bancada tradicional de investidores, que separou a banca tradicional da banca
de investimentos, com o objetivo de evitar que a primeira pudesse fazer
investimentos de alto risco. Obviamente, todo o setor financeiro se opõe absolutamente
a esta medida.
6) Em política
internacional, Trump quer estabelecer uma aliança com a Rússia para combater
com eficácia à Organização Estado islâmico (ISIS, pelas suas siglas em inglês),
mesmo que, para isso, Washington tenha que reconhecer a incorporação de Crimea
por parte dos russos.
7) Trump estima que, devido à sua enorme dívida
soberana, os Estados Unidos já não dispõem de recursos necessários para
conduzir uma política exterior intervencionista indiscriminada. Já não pode
impor a paz a qualquer preço. Destoando do discurso dos caciques do seu
partido, o empresário diz que sua postura é uma consequência lógica do final da
Guerra Fria, e que é preciso mudar a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico
Norte, principal coalizão militar do Ocidente): “não haverá mais garantias de
uma proteção automática dos Estados Unidos para os países da OTAN”.
Todas estas propostas não invalidam as
inaceitáveis, odiosas e nojentas declarações do candidato republicano
repercutidas com alarde pela mídia dominante. Mas, sem dúvidas, explicam melhor
o porquê de seu êxito.
Em 1980, a inesperada vitória de Ronald Reagan à
presidência dos Estados Unidos fez o planeta entrar em um ciclo de quarenta
anos de neoliberalismo e de globalização financeira. A vitória de Donald Trump
pode nos fazer entrar em um ciclo geopolítico com perigosas características
ideológicas – que temos visto aparecer em todas partes e, em particular, na
França com Marine Le Pen – é o ‘autoritarismo identitário’.
Um velho mundo está sendo derrubado, e dá vertigem…”
Por Ignácio Ramonet, para o Desinformémonos - Tradução:
María Julia Giménez, do Brasil de Fato
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