O manifesto é assinado por juristas, advogados, lideranças políticas e
sociais repudiando ilegalidades nas prisões dos réus do mensalão efetuadas
durante o feriado da Proclamação da República, com o ministro Joaquim Barbosa
emitindo carta de sentença só 48 horas depois das ordens de prisão.
O locutor completou: "O manifesto ainda levanta dúvidas sobre o
preparo ou boa-fé do ministro Joaquim Barbosa, e diz que o Supremo precisa
reagir para não se tornar refém de seu presidente".
A TV Globo nunca divulgou antes outros manifestos em apoio aos réus,
muito menos criticando Joaquim Barbosa, tampouco deu atenção a reclamações de
abusos e erros grotescos cometidos no julgamento. Pelo contrário, endossou e
encorajou verdadeiros linchamentos. Por que, então, divulgar esse manifesto,
agora?
É o jogo político, que a Globo, bem ou mal, sabe jogar, e Joaquim
Barbosa, calouro na política, não. E quem ainda não entendeu que esse
julgamento foi político do começo ao fim precisa voltar ao be-a-bá da política.
O PT tinha um acerto de contas a fazer com a questão do caixa dois, mas parava
por aí no que diz respeito aos petistas, pois tiveram suas vidas devassadas por
adversários, que nada encontraram. O resto foi um golpe político, que falhou
eleitoralmente, e transformou-se numa das maiores lambanças jurídicas já
produzidas numa corte que deveria ser suprema.
A Globo precisava das cabeças de Dirceu e Genoino porque, se fossem
absolvidos, sofreria a mesma derrota e o mesmo desgaste que sofreu para Leonel
Brizola em 1982 no caso Proconsult, e o STF estaria endossando para a sociedade
a tese da conspiração golpista perpetrada pela mídia oposicionista ao atual
governo federal.
A emissora sabe dos bastidores, conhece a inocência de muitos condenados,
sabe da inexistência de crimes atribuídos injustamente, e sabe que haverá uma
reviravolta aos poucos, inclusive com apoios internacionais. A Globo sabe o que
é uma novela e conhece os próximos capítulos desta que ela também é
protagonista.
Hoje, em tempos de internet, as verdades desconhecidas do grande público
não estão apenas nas gavetas da Rede Globo, como acontecia na ditadura, para
serem publicadas somente quando os interesses empresariais de seus donos não
fossem afetados. As verdades sobre o mensalão já estão escancaradas e estão
sendo disseminadas nas redes sociais. A Globo, o STF e Joaquim Barbosa têm um
encontro marcado com essas verdades. E a emissora já sinaliza que, se ela
noticiou coisas "erradas", a culpa será atribuída aos "erros"
de Joaquim Barbosa e do então procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Joaquim Barbosa, homem culto, deve conhecer a história de Mefistófeles
de Goethe, a parábola do homem que entregou a alma ao demônio por ambições
pessoais imediatas. Uma metáfora parecida parece haver na sua relação com a TV
Globo. Mas a emissora parece que está cobrando a entrega antes do imaginado.Por Helena Sthephanowitz - publicado 21/11/2013 - www.redebrasilatual.com.br
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