Ontem,
8, o preso político Luiz Inácio Lula da Silva, da prisão, divulgou à sociedade
brasileira um manifesto no qual, dentre outros esperançares, afirma que o povo
brasileiro voltará a ser feliz com seu retornou à Presidência da República.
E
também com a eleição para o Congresso Nacional, composto pela Câmara e pelo
Senado, de candidaturas proporcionais que tenham comprometimento com a
dignidade humana e com o forte compromisso de revogarem o entulho de destruição
de direitos sociais, inclusive a “Pec da Morte” ou da “redução dos gastos”.
A seguir você pode ler o
Manifesto: Manifesto ao Povo Brasileiro
Há dois meses estou preso, injustamente, sem ter cometido crime
nenhum. Há dois meses estou impedido de percorrer o País que amo,
levando a mensagem de esperança num Brasil melhor e mais justo, com
oportunidades para todos, como sempre fiz em 45 anos de vida pública.
Fui privado de conviver diariamente com meus filhos e minha filha,
meus netos e netas, minha bisneta, meus amigos e companheiros. Mas não
tenho dúvida de que me puseram aqui para me impedir de conviver com
minha grande família: o povo brasileiro. Isso é o que mais me angustia,
pois sei que, do lado de fora, a cada dia mais e mais famílias voltam a
viver nas ruas, abandonadas pelo estado que deveria protegê-las.
De onde me encontro, quero renovar a mensagem de fé no Brasil e em
nosso povo. Juntos, soubemos superar momentos difíceis, graves crises
econômicas, políticas e sociais. Juntos, no meu governo, vencemos a
fome, o desemprego,
a recessão, as enormes pressões do capital internacional e de seus
representantes no País. Juntos, reduzimos a secular doença da
desigualdade social que marcou a formação do Brasil: o genocídio dos
indígenas, a escravidão dos negros e a exploração dos trabalhadores da
cidade e do campo.
Combatemos sem tréguas as injustiças. De cabeça erguida, chegamos a
ser considerados o povo mais otimista do mundo. Aprofundamos nossa
democracia e por isso conquistamos protagonismo internacional, com a
criação da Unasul, da Celac, dos BRICS e a nossa relação solidária com os países africanos. Nossa voz foi ouvida no G-8 e nos mais importantes fóruns mundiais.
Tenho certeza que podemos reconstruir este País e voltar a sonhar com uma grande nação. Isso é o que me anima a seguir lutando.
Não posso me conformar com o sofrimento dos mais pobres e o castigo
que está se abatendo sobre a nossa classe trabalhadora, assim como não
me conformo com minha situação.
Os que me acusaram na Lava Jato sabem que mentiram, pois nunca fui
dono, nunca tive a posse, nunca passei uma noite no tal apartamento do
Guarujá. Os que me condenaram, Sérgio Moro e os desembargadores do TRF-4,
sabem que armaram uma farsa judicial para me prender, pois demonstrei
minha inocência no processo e eles não conseguiram apresentar a prova do
crime de que me acusam.
Até hoje me pergunto: onde está a prova?
Não fui tratado pelos procuradores da Lava Jato, por Moro e pelo
TRF-4 como um cidadão igual aos demais. Fui tratado sempre como inimigo.
Não cultivo ódio ou rancor, mas duvido que meus algozes possam dormir com a consciência tranquila.
Contra todas as injustiças, tenho o direito constitucional de
recorrer em liberdade, mas esse direito me tem sido negado, até agora,
pelo único motivo de que me chamo Luiz Inácio Lula da Silva.
Por isso me considero um preso político em meu país.
Quando ficou claro que iriam me prender à força, sem crime nem
provas, decidi ficar no Brasil e enfrentar meus algozes. Sei do meu
lugar na história e sei qual é o lugar reservado aos que hoje me
perseguem. Tenho certeza de que a Justiça fará prevalecer a verdade.
Nas caravanas que fiz recentemente pelo Brasil, vi a esperança nos
olhos das pessoas. E também vi a angústia de quem está sofrendo com a
volta da fome e do desemprego, a desnutrição, o abandono escolar, os
direitos roubados aos trabalhadores, a destruição das políticas de
inclusão social constitucionalmente garantidas e agora negadas na
prática.
É para acabar com o sofrimento do povo que sou novamente candidato à Presidência da República.
Assumo esta missão porque tenho uma grande responsabilidade com o
Brasil e porque os brasileiros têm o direito de votar livremente num
projeto de país mais solidário, mais justo e soberano, perseverando no
projeto de integração latino-americana.
Sou candidato porque acredito, sinceramente, que a Justiça Eleitoral
manterá a coerência com seus precedentes de jurisprudência, desde 2002,
não se curvando à chantagem da exceção só para ferir meu direito e o
direito dos eleitores de votar em quem melhor os representa.
Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é diferente: é
o compromisso da minha vida. Quem teve o privilégio de ver o Brasil
avançar em benefício dos mais pobres, depois de séculos de exclusão e
abandono, não pode se omitir na hora mais difícil para a nossa gente.
Sei que minha candidatura representa a esperança, e vamos levá-la até
as últimas consequências, porque temos ao nosso lado a força do povo.
Temos o direito de sonhar novamente, depois do pesadelo que nos foi imposto pelo golpe de 2016.
Mentiram para derrubar a presidenta Dilma Rousseff,
legitimamente eleita. Mentiram que o país iria melhorar se o PT saísse
do governo; que haveria mais empregos e mais desenvolvimento. Mentiram
para impor o programa derrotado nas urnas em 2014. Mentiram para
destruir o projeto de erradicação da miséria que colocamos em curso a
partir do meu governo. Mentiram para entregar as riquezas nacionais e
favorecer os detentores do poder econômico e financeiro, numa
escandalosa traição à vontade do povo, manifestada em 2002, 2006, 2010 e
2014, de modo claro e inequívoco.
Está chegando a hora da verdade.
Quero ser presidente do Brasil novamente porque já provei que é
possível construir um Brasil melhor para o nosso povo. Provamos que o
País pode crescer, em benefício de todos, quando o governo coloca os
trabalhadores e os mais pobres no centro das atenções, e não se torna
escravo dos interesses dos ricos e poderosos. E provamos que somente a
inclusão de milhões de pobres pode fazer a economia crescer e se recuperar.
Governamos para o povo e não para o mercado. É o contrário do que faz
o governo dos nossos adversários, a serviço dos financistas e das
multinacionais, que suprimiu direitos históricos dos trabalhadores,
reduziu o salário real, cortou os investimentos em saúde e educação e está destruindo programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronaf, Luz Pra Todos, Prouni e Fies, entre tantas ações voltadas para a justiça social.
Sonho ser presidente do Brasil para acabar com o sofrimento de quem
não tem mais dinheiro para comprar o botijão de gás, que voltou a usar a
lenha para cozinhar ou, pior ainda, usam álcool e se tornam vítimas de
graves acidentes e queimaduras.
Este é um dos mais cruéis retrocessos
provocados pela política de destruição da Petrobrás e da soberania
nacional, conduzida pelos entreguistas do PSDB que apoiaram o golpe de 2016.
A Petrobras
não foi criada para gerar ganhos para os especuladores de Wall Street,
em Nova Iorque, mas para garantir a autossuficiência de petróleo no
Brasil, a preços compatíveis com a economia popular.
A Petrobras tem de
voltar a ser brasileira. Podem estar certos que nós vamos acabar com
essa história de vender seus ativos. Ela não será mais refém das
multinacionais do petróleo. Voltará a exercer papel estratégico no
desenvolvimento do País, inclusive no direcionamento dos recursos do pré-sal para a educação, nosso passaporte para o futuro.
Podem estar certos também de que impediremos a privatização da Eletrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa, o esvaziamento do BNDES e de todos os instrumentos de que o País dispõe para promover o desenvolvimento e o bem-estar social.
Sonho ser o presidente de um País em que o julgador preste mais atenção à Constituição e menos às manchetes dos jornais.
Em que o estado de direito seja a regra, sem medidas de exceção.
Sonho com um país em que a democracia prevaleça sobre o arbítrio, o monopólio da mídia, o preconceito e a discriminação.
Sonho ser o presidente de um País em que todos tenham direitos e ninguém tenha privilégios.
Um País em que todos possam fazer novamente três refeições por dia;
em que as crianças possam frequentar a escola, em que todos tenham
direito ao trabalho com salário digno e proteção da lei. Um país em que
todo trabalhador rural volte a ter acesso à terra para produzir, com
financiamento e assistência técnica.
Um país em que as pessoas voltem a ter confiança no presente e
esperança no futuro. E que por isso mesmo volte a ser respeitado
internacionalmente, volte a promover a integração latino-americana e a
cooperação com a África, e que exerça uma posição soberana nos diálogos
internacionais sobre o comércio e o meio ambiente, pela paz e a amizade entre os povos.
Nós sabemos qual é o caminho para concretizar esses sonhos. Hoje ele
passa pela realização de eleições livres e democráticas, com a
participação de todas as forças políticas, sem regras de exceção para
impedir apenas determinado candidato.
Só assim teremos um governo com legitimidade para enfrentar os
grandes desafios, que poderá dialogar com todos os setores da nação
respaldado pelo voto popular. É a esta missão que me proponho ao aceitar
a candidatura presidencial pelo Partido dos Trabalhadores.
Já mostramos que é possível fazer um governo de pacificação nacional,
em que o Brasil caminhe ao encontro dos brasileiros, especialmente dos
mais pobres e dos trabalhadores.
Fiz um governo em que os pobres foram incluídos no orçamento da
União, com mais distribuição de renda e menos fome; com mais saúde e
menos mortalidade infantil; com mais respeito e afirmação dos direitos das mulheres, dos negros e à diversidade, e com menos violência;
com mais educação em todos os níveis e menos crianças fora da escola;
com mais acesso às universidades e ao ensino técnico e menos jovens
excluídos do futuro; com mais habitação popular e menos conflitos de
ocupações nas cidades; com mais assentamentos e distribuição de terras e
menos conflitos de ocupações no campo; com mais respeito às populações
indígenas e quilombolas, com mais ganhos salariais e garantia dos direitos dos trabalhadores, com mais diálogo com os sindicatos, movimentos sociais e organizações empresarias e menos conflitos sociais.
Foi um tempo de paz e prosperidade, como nunca antes tivemos na história.
Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz. E
pode avançar muito mais do que conquistamos juntos, quando o governo
era do povo.
Para alcançar este objetivo, temos de unir as forças democráticas de
todo o Brasil, respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos,
mas sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e
mais justo, que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente
sofrida. Tenho certeza de que estaremos juntos ao final da caminhada.
Daqui onde estou, com a solidariedade e as energias que vêm de todos
os cantos do Brasil e do mundo, posso assegurar que continuarei
trabalhando para transformar nossos sonhos em realidade. E assim vou me
preparando, com fé em Deus e muita confiança, para o dia do reencontro
com o querido povo brasileiro.
E esse reencontro só não ocorrerá se a vida me faltar.
Até breve, minha gente
Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva o Povo Brasileiro!
Luiz Inácio Lula da Silva
Curitiba, 8 de junho de 2018