Em especial os direitos dos empregados e das empregadas
Ironicamente, a destruição dos direitos trabalhista
acontece 100 após a Revolução Russa e a Greve de 1917, que foi forte em São
Paulo, capital, mas atingiu todo o País.
Um livro, oficialmente publicado na última
sexta-feira, traz uma oportunidade de se relembrar o que ocorreu em uma época
na qual praticamente ninguém atualmente vivo já era nascido.
Vale a leitura do livro: “1917-2017. 100 Anos de
Greve Geral – Passado ou Futuro?. A resenha dele que você pode ler abaixo dá uma boa noção de sua
“A greve
de 1917 conta histórias que continuam atuais
Livro
escrito por jornalista narra detalhes da paralisação que tomou a cidade de São
Paulo há 100 anos. E fala das ameaças de retrocesso que desafiam o movimento
sindical.
Por Vitor
Nuzzi, da RBA publicado 14/12/2017
REPRODUÇÃO
Mobilização: mulheres ganhavam pouco mais da metade
do que recebiam os homens e crianças
São Paulo – "O caixão foi carregado pelas mãos
dos amigos, antigos ou recém-chegados, outra evidência de que ali se
tratava de um enorme grupo de famélicos, pessoas em desespero. Naquele início
de século, os cadáveres eram distinguidos pelo número de cavalos que
puxavam os carros fúnebres; e, quanto mais enfeitados os cavalos, mais
nobre o morto."
A descrição é do enterro do jovem sapateiro e
militante anarquista José Martinez, 21 anos, uma das vítimas da greve que tomou
conta de São Paulo de 9 a 16 de julho de 1917, uma referência histórica do
movimento operário brasileiro, em tempos de direitos ameaçados e
"reformas" da legislação. A estimativa é de que 10 mil pessoas
acompanharam o féretro pelas ruas do centro paulistano até o Cemitério do Araçá,
saindo da Rua Caetano Pinto, no Brás, um dos bairros mais antigos da cidade e
onde se localiza atualmente a sede da CUT.
Com lançamento marcado para esta sexta-feira (15),
o livro 1917-2017. 100 Anos de Greve Geral – Passado ou Futuro?, do
jornalista paulistano Isaías Dalle, propõe discutir o momento histórico,
descrevendo o início da organização trabalhista e fazendo a ligação com a atual
conjuntura, que já motivou uma greve geral em 28 de abril. O lançamento, com
debate, será a partir das 18h30, justamente na Rua Caetano Pinto. A iniciativa
é da CUT e da Fundação Perseu Abramo (FPA).
"Ironia do destino ou a história repetida como
farsa, justamente no ano do centenário da mobilização operária que
reivindicava, entre outros direitos, o de sindicalização, jornada de oito horas
semanais e proibição do trabalho infantil no período noturno, um governo
golpista consegue aprovar uma legislação trabalhista que representa um
retrocesso de, pelo menos, 100 anos", afirmam os organizadores. "Essa
é uma das propostas do livro, fazer a transição entre aquele período heroico
inaugural e o momento que vivemos atualmente."
Livro resgata origens da
organização operária e aponta ameaça atual a direitos conquistados ao longo da
história
O operário morreu após ser atingido por um tiro
dado pela Força Pública, a polícia da época. "Martinez tombara próximo ao
local de trabalho dele, uma das inóspitas e insalubres masmorras onde se
produziam tecidos e roupas, fábricas que cobriam a paisagem dos bairros
operários da cidade, como o Brás, cujas calçadas testemunharam seu corpo jazer
até que outros grevistas recolhessem o jovem dali. (...) O enterro de
Martinez mexeu de tal forma com a cidade que os dias que se seguiram
fizeram a capital paulista parar de maneira como nunca mais se
teve registro posterior. O comércio não abriu as portas, os bondes não
circularam, as pessoas ficaram em suas casas."
Outras pessoas morreram naqueles dias. A menina
Eduarda Blinda, de 12 anos, foi atingida por um disparo (hoje se diria
"bala perdida") na porta de sua casa, na Barra Funda, outro bairro
central e operário. E o grevista Nicola Salerno morreu "nas mãos da
polícia" ao tentar deter um bonde na Rua Augusta.
O número real de mortes certamente foi maior.
Isaías faz referência a uma história, "até hoje sem apuração ou reparação
oficial", de que centenas de grevistas e manifestantes teriam sido
enterrados à noite ou sem registro legal. Também teria havido uma razoável
quantidade de policiais mortos. O livro traz várias imagens do movimento e da
situação dos trabalhadores um século atrás, além de reproduções de periódicos
da época.
Segundo afirma na apresentação o presidente da CUT,
Vagner Freitas, a leitura "nos faz refletir sobre os fatos, o
momento político e as lutas dos companheiros e companheiras, em sua
maioria, europeus que imigraram para o Brasil e, há cem anos, iniciaram as
maiores lutas do trabalho fabril contra o capital explorador em nosso
país". E também "sobre os avanços que conquistamos nos anos
seguintes, enfrentando repressão policial idêntica ou até maior porque
mais preparada para ferir, para agredir, para matar".
Para os autores do prefácio, o diretor da FPA e
ex-presidente da CUT Artur Henrique da Silva Santos e o secretário de Cultura
da central, José Celestino Lourenço, "a greve geral de 1917 era o
despertar de um movimento operário que daquele momento em diante declarava
guerra sem tréguas ao luxo ostensivo e insensato dos parasitas, como denunciava
uma das edições do jornal A Plebe, um dos mais influentes entre o
operariado naquele contexto".
Segundo eles, o autor do livro, "sem a
pretensão de esgotar os estudos e os debates sobre este importante
acontecimento, nos apresenta uma abordagem inovadora ao procurar demonstrar que
as lutas travadas em 1917, duramente reprimidas e marcadas por traições por
parte dos patrões, ao negarem o cumprimento dos acordos firmados, não
encerraram as contradições de classe inerentes ao processo de consolidação do
capitalismo, em particular no Brasil".
Nova escravidão
De acordo com o autor, o ponto de partida da greve
foram as péssimas condições de vida dos operários, que, vindos da Europa,
encontravam "uma nova espécie de escravidão" no Brasil, com jornadas
que frequentemente superavam as 12 horas diárias, chegando a 18 em algumas
situações, além de baixos salários.
"Diante de impossibilidade de viver
dignamente, a hipótese – defendida pelos patrões, de empregar meninas, meninos
e mães de família no cotidiano das fábricas parecia a única saída
permitida pelo mundo e pelos céus. Aquele quadro sombrio guarda
semelhanças com situações que se podem encontrar no Brasil de 100 anos
depois", diz Isaías, 51 anos, há 15 atuando na imprensa sindical.
"Mães e mulheres grávidas trabalhavam em ambientes insalubres ao longo
de horas. Crianças – muitas com oito a dez anos de idade – eram usadas nas
fábricas." Segundo relatos da época, alguns chefes, chamados de "contramestres",
chegavam a usar pistolas para intimidar os operários.
O autor anota que, de acordo com o professor
ítalo-brasileiro Luigi Biondi, a maioria dos operários, naquela época, era de
italianos ou descendentes. "Evidência disso estava na composição dos
quadros do Cotonifício Crespi, no bairro da Mooca, onde eclodiu o primeiro
núcleo grevista daquele ano. De 1305 trabalhadores, 947 eram italianos",
escreve.
Em 14 de julho, uma proposta de acordo inclui o
compromisso de libertar todos os presos, reconhecer o direito de associação e
reunião, combater a alta de preços e a adulteração de gêneros alimentícios e
estudar meio de impedir o trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos.
O Comitê de Defesa Proletária, uma espécie de "comando de greve",
recomenda a aceitação, por temer mais mortes. Um grande comício é realizado no
Largo da Concórdia, diante do Teatro Colombo, com estimadas 10 mil pessoas.
Outros dois ocorreram na cidade, nos bairros do Ipiranga e da Lapa, aprovando a
proposta.
A segunda parte do livro começa com a narrativa de
ato no Cemitério de Araçá, um século depois do enterro de Martinez, cujo túmulo
foi localizado por Isaías durante suas pesquisas. Em 10 de julho, foi
inaugurado um memorial em homenagem à memória dele e de todos os operários que
participaram do movimento. Apenas um dia depois, o Senado aprovava o projeto
que se tornaria a Lei 13.467, "que a mídia comercial eufemisticamente
apelidou de 'reforma trabalhista'". Começava um novo capítulo da história
do movimento sindical, da luta operária e da resistência.
"Eis que, cem anos depois, sem que a maioria
da sociedade brasileira tivesse ainda atingido o direito de estar incluída na
cobertura das leis trabalhistas surgidas na década de 1940, a nova legislação
aprovada traz recuo, fragilizando a proteção dos trabalhadores e
trabalhadoras", constata o autor.”
http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2017/12/a-greve-de-1917-conta-historias-que-continuam-atuais
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