Partido dos Trabalhadores

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sexta-feira, 29 de julho de 2022

DIA DA MULHER NEGRA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA, UMA DATA FUNDAMENTAL

Eis um excelente e emocionante artigo escrito pela professora Márcia Gilda, do Distrito Federal:

O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado em 25 de julho. A data foi firmada pelo governo brasileiro em 2014, sob o mandato de Dilma Rousseff.

E também destaca o papel histórico de Tereza de Benguela, importante liderança quilombola que viveu no século XVIII no Mato Grosso, onde resistiu à escravização da comunidade negra e indígena.

Tanto a celebração da data quanto a referência a Tereza são fundamentais para a luta das mulheres negras.

A data 25 de julho foi escolhida porque marca a realização do 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas realizado em Santo Domingo, República Dominicana, há 30 anos.

 

O racismo estrutural, o mito da democracia racial, o machismo e o patriarcado excluem, oprimem e marginalizam as mulheres negras. Diante dessa realidade, o feminismo negro traz contribuições decisivas às elaborações de lutadores e lutadoras sociais do mundo todo, agregando um olhar que, por incluir demandas, vivências e leituras específicas das mulheres negras, amplia a noção de direitos e de justiça.

No Brasil, somos 58 milhões de mulheres negras. Somos a base da pirâmide, somos aquelas que ocupam os postos de trabalho menos valorizados, mais precarizados e com os menores salários.

Criamos os filhos e as filhas das famílias brancas, cuidamos de suas casas, e tudo isso sem acesso aos direitos trabalhistas correspondentes (Isto até a Lei das Domésticas, pois se o patrão não pagar os direitos espontaneamente, poderá pagar na Justiça do Trabalho).

Somos o principal alvo da violência, direta ou indireta, porque também somos quem mais sofre a perda de filhos: a juventude negra é a principal vítima da violência no nosso país.

As mulheres negras estão alijadas dos espaços de poder, o que torna esses espaços não representativos e, portanto, limitados demais para serem instrumentos de igualdade, democracia e justiça.

Amarga realidade

Segundo o Atlas da Violência 2021, em 2019, 66% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras.

Em termos relativos, enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras foi de 2,5, a mesma taxa para as mulheres negras foi de 4,1.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que outros grupos.

Ainda segundo o Ipea, enquanto o desemprego entre mulheres negras subiu 80% em relação ao período anterior à crise econômica, entre homens brancos o aumento foi de 4,6%.

Consequência de outro número, apontado pelo IBGE: 39,8% de mulheres negras compõem o grupo submetido a condições precárias de trabalho.

Com toda essa realidade, que não tem cunho apenas cultural, mas sim, sobretudo, material, são urgentes e necessárias políticas públicas destinadas a combater essa profunda desigualdade no acesso às oportunidades e na distribuição de renda.

Nossa luta é pela democracia e pela justiça, porque é através delas que garantiremos a efetivação dos nossos direitos e a igualdade que nos é devida!

Acontece que, desde o golpe de 2016, vivenciamos enormes prejuízos democráticos e retrocessos nas políticas públicas, bem como no plano cultural e civilizatório.

Mais uma vez, são as mulheres negras as principais atingidas por este momento tão triste da nossa história.

Momento de desvalorização e desmonte dos serviços públicos, de concentração de renda e de poder; momento de miséria, de fome, de violência.

As políticas de reparação à população negra, por exemplo – que foram estabelecidas tardiamente – vêm sendo desconstruídas e até combatidas pelo governo genocida e seus valores de violência e discriminação.

Só a luta muda a vida

Entretanto, nós, amefricanas – como diz Lélia Gonzalez -, herdeiras de Tereza de Benguela, não nos furtamos à missão de vencer o racismo estrutural e o mito da democracia racial.

Lutamos para deixar um país mais humano e justo para nossos descendentes.

Lutamos para deixar o lugar ao qual sempre quiseram nos escravizar: o de apenas sobreviver para servir.

Lutamos contra a violência obstétrica, contra a objetificação de nossos corpos e nossas vidas, contra o feminicídio.

Lutamos para realizar plenamente todas as nossas potencialidades.

Lutamos para protagonizar as mudanças que o mundo precisa, para sermos incluídas, para sermos felizes.

Lutamos por igualdade, por justiça e por direitos!

Viva o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha!

Viva Tereza de Benguela!

*Por Márcia Gilda, professora da SEDF (Distrito Federal), e coordenadora da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro (sindicato) - Fonte: SINPRO-DF

Em: https://www.sinprodf.org.br/dia-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha-uma-data-fundamental/ (Clicando, você ouve o áudio da matéria)

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