Eis um excelente e emocionante
artigo escrito pela professora Márcia Gilda, do Distrito Federal:
“O Dia da
Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado em 25 de julho. A
data foi firmada pelo governo brasileiro em 2014, sob o mandato de Dilma
Rousseff.
E também destaca o papel
histórico de Tereza de Benguela, importante liderança quilombola que
viveu no século XVIII no Mato Grosso, onde resistiu à escravização da
comunidade negra e indígena.
Tanto a celebração da data
quanto a referência a Tereza são fundamentais para a luta das mulheres negras.
A data 25 de julho foi
escolhida porque marca a realização do 1º Encontro de Mulheres
Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas realizado em Santo Domingo,
República Dominicana, há 30 anos.
O racismo estrutural, o mito
da democracia racial, o machismo e o patriarcado excluem, oprimem e
marginalizam as mulheres negras. Diante dessa realidade, o feminismo negro traz
contribuições decisivas às elaborações de lutadores e lutadoras sociais do
mundo todo, agregando um olhar que, por incluir demandas, vivências e leituras
específicas das mulheres negras, amplia a noção de direitos e de justiça.
No Brasil, somos 58 milhões de
mulheres negras. Somos a base da pirâmide, somos aquelas que ocupam os postos
de trabalho menos valorizados, mais precarizados e com os menores salários.
Criamos os filhos e as filhas
das famílias brancas, cuidamos de suas casas, e tudo isso sem acesso aos
direitos trabalhistas correspondentes (Isto até a Lei
das Domésticas, pois se o patrão não pagar os direitos espontaneamente, poderá
pagar na Justiça do Trabalho).
Somos o principal alvo da
violência, direta ou indireta, porque também somos quem mais sofre a perda de
filhos: a juventude negra é a principal vítima da violência no nosso país.
As mulheres negras estão
alijadas dos espaços de poder, o que torna esses espaços não representativos e,
portanto, limitados demais para serem instrumentos de igualdade, democracia e
justiça.
Amarga realidade
Segundo o Atlas da Violência
2021, em 2019, 66% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras.
Em termos relativos, enquanto
a taxa de homicídios de mulheres não negras foi de 2,5, a mesma taxa para as
mulheres negras foi de 4,1.
Dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) mostram que mulheres negras estão 50% mais
suscetíveis ao desemprego do que outros grupos.
Ainda segundo o Ipea, enquanto
o desemprego entre mulheres negras subiu 80% em relação ao período anterior à
crise econômica, entre homens brancos o aumento foi de 4,6%.
Consequência de outro número,
apontado pelo IBGE: 39,8% de mulheres negras compõem o grupo submetido a
condições precárias de trabalho.
Com toda essa realidade, que
não tem cunho apenas cultural, mas sim, sobretudo, material, são urgentes e
necessárias políticas públicas destinadas a combater essa profunda desigualdade
no acesso às oportunidades e na distribuição de renda.
Nossa luta é pela democracia e
pela justiça, porque é através delas que garantiremos a efetivação dos nossos
direitos e a igualdade que nos é devida!
Acontece que, desde o golpe de
2016, vivenciamos enormes prejuízos democráticos e retrocessos nas políticas
públicas, bem como no plano cultural e civilizatório.
Mais uma vez, são as mulheres
negras as principais atingidas por este momento tão triste da nossa história.
Momento de desvalorização e
desmonte dos serviços públicos, de concentração de renda e de poder; momento de
miséria, de fome, de violência.
As políticas de reparação à
população negra, por exemplo – que foram estabelecidas tardiamente – vêm sendo
desconstruídas e até combatidas pelo governo genocida e seus valores de
violência e discriminação.
Só a luta muda a vida
Entretanto, nós, amefricanas –
como diz Lélia Gonzalez -, herdeiras de Tereza de Benguela, não nos furtamos à
missão de vencer o racismo estrutural e o mito da democracia racial.
Lutamos para deixar um país
mais humano e justo para nossos descendentes.
Lutamos para deixar o lugar ao
qual sempre quiseram nos escravizar: o de apenas sobreviver para servir.
Lutamos contra a violência
obstétrica, contra a objetificação de nossos corpos e nossas vidas, contra o
feminicídio.
Lutamos para realizar
plenamente todas as nossas potencialidades.
Lutamos para protagonizar as
mudanças que o mundo precisa, para sermos incluídas, para sermos felizes.
Lutamos por igualdade, por
justiça e por direitos!
Viva o Dia da Mulher Negra
Latino-Americana e Caribenha!
Viva Tereza de Benguela!
*Por Márcia Gilda, professora
da SEDF (Distrito Federal), e coordenadora da Secretaria de Raça e Sexualidade
do Sinpro (sindicato) - Fonte: SINPRO-DF
Em: https://www.sinprodf.org.br/dia-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha-uma-data-fundamental/ (Clicando, você ouve o áudio da matéria)