TENTANDO ESCONDER SUAS RESPONSABILIDADES PELO GOLPE E PELA CRISE
Nesse invernoso
sábado, 11 de julho, a temática político-midiática gira em torno de algo que
não pode passar desapercebido pela população brasileira. A tentativa das
organizações Globo ludibriar o sentimento da injustiçada população brasileira.
Não combate as diversas injustiças sociais, econômicas e tributárias e reinam,
com o fortíssimo apoio dos marinhos. Mas acena com um enganativo discurso de paz
à sociedade em geral e ao PT, em particular.
O silencioso e
dissimulado núcleo do verbo é decadência das organizações Globo, que perdem “audiência”
para outros diversos meios de comunicação, em todo o Brasil e no exterior.
O artigo que você lerá
a seguir é muito esclarecedor para todos e todas nós. Para petistas e para não-petistas,
até porque o modelo econômico vigente, apoiado pelos marinhos é o grande construtor
do empobrecimento da população. Mas a resistência do PT e de diversas outras
forças políticas e político-eleitorais não deixam esses fatos ficarem
escondidos ou camuflados.
O texto é de autora
do professor Roberto Bueno e foi publicado no portal Brasil 247. Clicando no línque
no final da matéria, você a ler no próprio portal.
“A Globo (com Guedes) pede ajuda ao PT
"Importa recordar que este é, no mínimo, o
terceiro movimento do grupo Globo em aceno ao PT", ressalta o colunista
Roberto Bueno
Neste sábado dia 11.07.2020 o jornal O Globo
através de importante colunista de seu time, Ascânio Seleme, realizou importante movimento político, aceno,
ainda bastante tímido, mas significativo, o que é devido ao incessante avanço
da extrema-direita sobre os interesses do grupo com potencial de colocar em
causa a sua relevância empresarial e, no limite, a sua existência. O aceno do
importante colunista que já ocupou cargo diretivo no jornal ocorreu abertamente
na direção do Partido dos Trabalhadores (PT), destacando ser interlocutor
válido e necessário, reconhecendo-o como representante legítimo de, ao menos,
30% da sociedade brasileira. Mesmo rápida e pontual análise do texto permite
observar gravíssimas deficiências nas posições sustentadas no artigo.
À partida, não é possível desconhecer que o artigo
de Ascânio Seleme deve ser reconhecido como expressão do grupo Globo, posto
tratar-se de matéria tão delicada, posto que não apenas envolve como
“reabilita” o PT como legítimo interlocutor político e que, portanto, deve ser
novamente trazido para o espaço político. Neste sentido devemos compreender que
o artigo é de dupla autoria, a saber, “Ascânio-Globo”, e assim o retrataremos
daqui em frente.
Importa recordar que este é, no mínimo, o terceiro
movimento do grupo Globo em aceno ao PT. O primeiro deles foi o convite do
próprio jornal O Globo para que Lula concedesse entrevista ao jornalista
e colunista Bernardo Mello Franco, que foi negada pelo Presidente que, como
declarou recentemente, não costuma subir no “primeiro ônibus que passa”. Passo
seguinte, neste dia 09.07.2020, Lula concedeu entrevista a uma das afiliadas do
Grupo Globo, a Rádio Gaúcha, do Grupo RBS, que historicamente mantém linha
ideológica absolutamente afinada com a Globo, mas que, sem embargo, à diferença
do artigo de Ascânio, prestou-se para realizar entrevista-linchamento com Lula,
personalidade altamente representativa da sociedade brasileira. Isto sugere
que, ao menos até então não havia sintonia fina entre a empresa gaúcha e a
linha da matriz, não tinha ainda ecoado aos ouvidos dos entrevistadores Mattos,
Potter e Coimbra o claro aviso de Ascânio-Globo de que “A gritaria contra a
roubalheira já cansou, não porque se queira permitir roubalheiras, mas porque é
oportunista politicamente”. Fomos assim avisados formalmente pela empresa
de que vivíamos sob o reino do oportunismo político.
Podemos questionar o que motiva o artigo neste
momento, e sugiro tratar-se de que a empresa começa a vislumbrar por quem
dobrarão os sinos a tempo próximo e, ao que parece, não lhe apraz o que
antecipa. A empresa parece antecipar o cenário de real ameaça a sua posição de
poder, e que esteja em risco o principal aspecto que mantém o seu apoio ao
regime, vale dizer, os ganhos econômicos que vêm auferindo até aqui sob a égide
da política econômica do neoliberalismo de Guedes-Pinochet. O artigo não faz
qualquer referência a este motivo subterrâneo, e principal.
Ascânio-Globo faz arrancar o artigo destacando que
30% da população brasileira não pode ser rejeitada, apontando ser este o núcleo
de petistas no país, militantes e apoiadores do partido. Contudo, Ascânio-Globo
fazem tal referência como se pudessem permitir-se realizar a análise desde um
ponto observação do mundo exterior, vale dizer, como se a Globo pudesse olhar
para esta enorme parcela da população brasileira e, repentinamente, notar que a
organização política do país não pode prescindir dela, que algum obscuro
mecanismo até aqui a excluiu e isto já não mais é possível de ser mantido. Esta
posição habilmente distante do texto permite conduzir ao equívoco de que
Ascânio-Globo nada tem a ver com o tema.
Rigorosamente, Ascânio-Globo tem tudo a ver com o
problema detectado da exclusão desta vasta parcela da população brasileira, de
sua interdição do debate público, com isto bastando observar a ausência de
lideranças petistas nos veículos da empresa Globo. A empresa não apenas
participou deste processo de exclusão dos 30% da população como,
definitivamente, foi decisiva para que isto tenha sido mantido hermeticamente
até aqui mas, reiteremos, o texto é redigido como se a empresa estivesse a
observar realidade desde perspectiva neutra, na qual nunca interveio. Nada mais
falso, e disto é prova toda a história da empresa desde a sua constituição com
financiamento norte-americano para consolidar o movimento golpista
antinacionalista, antisoberano e antidemocrático que veio sendo aplicado contra
o Brasil desde 1964 sob o beneplácito da família Marinho, passando, mais
recentemente pela fracassada tentativa de fraude (“caso Proconsult”) na eleição
de Leonel Brizola para o Governo do Rio de Janeiro (1983-1987), e também pela
manipulação na eleição de Fernando Collor de Melo, assim como na de Fernando
Henrique Cardoso, e mais recentemente no golpe contra o Brasil que concedeu
mandato a Dilma Rousseff, mas não menos intensamente em seu nefasto papel na
perseguição obstinada ao Presidente Lula e, por fim, manipulando para favorecer
a eleição de Jair Bolsonaro em desfavor de Fernando Haddad. Pode a democracia
conviver com este modelo empresarial que recorda o valor dos fundamentos da
democracia tão somente quando a existência da empresa e seus resultados
econômico-financeiros estão ameaçados?
Algo repentinamente é que Ascânio-Globo apresentam
surpresa com a massa de petistas excluídos do debate político, mas esquecendo
que Lula saiu do Governo com 87% de aprovação popular, como nenhum outro
governante logrou, e neste sentido o grupo de cidadãos brasileiros que a Globo
excluiu são muitos mais do que o grupo de 30% que apoiam o PT, agora,
tardiamente, reconhecido como, “Talvez o mais forte e sustentável da
história partidária brasileira tem que ser readmitido no debate nacional”.
Sem embargo, após este primeiro movimento de apoio ao diálogo e reincorporação
ao cenário político da grande força popular petista, Ascânio-Globo continuam a
manter restrições, e sobressai o caso da corrupção, para logo realizar o
movimento de “perdoar”, eis que, sustentam, “Ninguém tem dúvida de
que os malfeitos cometidos já foram amplamente punidos”. Notável o
argumento. Redigem como se fosse a própria empresa ocupante de posição alheia a
flagrantes casos que colocam em dúvida certos aspectos, digamos assim, de sua
higidez em matéria de tesouraria. Resta evidente o sentimento de como ainda
podem sentir-se à vontade os signatários do artigo para impor condições para
que o PT volte a ocupar o seu natural espaço político, senão à luz da velha
arrogância que habita o núcleo duro do que ainda restar de músculo cardíaco na
elite brasileira.
Ascânio-Globo criticam a suposta tentativa do PT de
censurar a imprensa, como se em algum recanto deste planeta, sobretudo nos tão
admirados países anglófonos, não existissem normas regulamentadoras da mídia
corporativa, assim como também na Alemanha e na França. Mas a Globo oculta o
fato, como sempre, e como nunca, quando o debate foi trazido à público durante
a administração petista. Contradição em termos, foi apenas a extrema liberdade
de que dispôs a Globo, contra todos os mais altos interesses do Brasil e de sua
gente, o que permitiu que ela desfrutasse de completa liberdade para chegar ao
extremo de alimentar o golpe de Estado contra o Brasil em 2016.
Ascânio-Globo não sentem qualquer espécie de
constrangimento em abrir espaço no texto para assestar crítica ao PT por abrir
espaços para a discussão e solução de conflitos através de mediações e
conselhos populares. Parecem manter condição arredia a tudo quanto diga
respeito às ruas, à busca de conciliação nas ruas e praças, nas vilas e nos
bairros, ali onde vive e pulsa o coração do povo, para além, exclusivamente,
dos tribunais, onde apenas acessa em posição de poder um conjunto limitado da
aristocracia, invariavelmente composta de privilegiados homens brancos de
classe média e alta que dispõe de recursos para longo período de preparação
para os concursos públicos aliados aos seus “sobrenomes de família”, fenômeno
que não sofre maior alteração histórica senão pela progressiva incorporação de
mulheres, mas todas elas da mesma classe social.
Ascânio-Globo reconhecem que “Passou da hora de
os petistas serem reintegrados”, mas logo apresentam o bastão para não
hesitar em destacar que o PT precisa abrir mão da tentativa de regular a mídia
e da proximidade das forças populares para que receba novamente o beneplácito
do grupo de poder midiático para postular o poder, como se os reais problemas
do Brasil não contivessem, dentre eles, o do controle do poder midiático por
mãos privadas que sucessivamente abortam os melhores projetos de
desenvolvimento nacional e de aprofundamento da democracia, e isto nós o
sabemos, de Vargas a Jango, de Lula a Dilma, como a Globo esteve ao lado dos coturnos
para vazar o sangue da gente brasileira.
O artigo de Ascânio-Globo aparenta repelir as
posições de violência e ódio, justamente os valores que estimularam e que hoje
comprometem o futuro da empresa, e que precisam desarmá-los com o objetivo e
potência com que direcionaram os seus canhões, dia após dia, noite após noite,
contra o PT. Esta é a única alternativa de reconstrução de penetração para uma
empresa que perdeu capilaridade em face do notável avanço da extrema-direita
casada ao fenômeno evangélico. Lapidares, Ascânio-Globo afirmam: “O fato é
que o ódio dirigido ao PT não faz mais sentido e precisa ser reconsiderado se o
país quiser mesmo seguir o seu destino de nação soberana, democrática e
tolerante”. Quase soa um “sejamos pragmáticos”, “deixa para lá”. É
relevantíssimo sublinhar que nenhum destes valores anunciados pela empresa como
superiores para orientar o futuro do Brasil foram historicamente praticados por
ela de forma congruente bastando checar o seu contínuo esforço por dinamitar as
políticas orientadas a garantir a soberania nacional, prestando apoio
incondicional à oligarquia nacional ao arrepio da recepção dos mais profundos
interesses do povo brasileiro. A tolerância é fenômeno recente tão somente na
esfera dos costumes, mas em nenhum caso se faz presente em sua versão econômica
traduzível na solidariedade econômica para a construção de sociedade
equitativa, com aceitáveis níveis de igualdade, senão o contrário, e neste
artigo a Globo continua a apontar para rumo de condescendência com a
concentração de riquezas e de poder político. Nem sequer um passo atrás.
Do artigo de Ascânio-Globo deflui com relativa
clareza a preocupação de reconfigurar o seu bloco político para enfrentar
ofensiva que parecem reputar estar a ameaçar a empresa. Para a reconfiguração
deste bloco de forças explicitam não contar com a “boa vontade dos que
carregam faixas pedindo intervenção militar e fechamento do Supremo e do
Congresso”, imediatamente classificados pela vontade que firma o artigo
como nada menos do que um “grupelho ideológico, burro e pequeno que faz
parte da base do presidente”. Nada como um dia após o outro, pois foram
estes os burros com quem até ontem a Globo este abraçada em regozijo malfezejo,
pornograficamente atentatório aos soberanos interesses do país, Petrobrás que o
diga, dezenas de milhares de cadáveres que o confirmam.
Ascânio-Globo avaliam que a burricada se perfila
exclusivamente ao redor de seu hipnotizador de finais de semana, e
equivocamente supõe que estes também não se encontram entre aqueles que compõem
o centro, centro-direita e direita. Junto a este coletivo Ascânio-Globo
acreditam poder obter apoios relevantes, avaliação conducente a erro ao
mistificar o fato de que o real centro no espectro político nacional é ocupado
pelo PT, enquanto que a centro-direita e a direita, ademais da falecida
social-democracia representada pelo PSDB, todos eles, hoje, não passam de meros
apêndices da extrema-direita através de seu apoio indisfarçável à política
econômica de Guedes sob o guarda-chuva bolsonarista-militarista.
A Globo está apenas levantando o braço pela
primeira vez de forma decidida para pedir socorro, mas não apresentou até aqui
sequer pista de pedido de desculpas por sua intervenção autoritária na vida
política do país, ferindo de morte a democracia e colocando as condições de
possibilidades para que continue sendo lançada ao lixo a Constituição
brasileira, o pacto político básico sob o qual a cidadania se reconhece e
orienta os rumos da vida nacional. A elite que Ascânio-Globo representam não
tem esta perspectiva de respeito ao pacto constitucional, mas supõe que podem
lançar pedido de auxílio à esquerda constitucionalista, e ao PT em particular:
“Hoje, respeitadas as suas idiossincrasias naturais, homens e mulheres de
esquerda devem ser convidados a participar da discussão sobre o futuro do país.
Têm muito a oferecer e a acrescentar”. Em nenhum momento do artigo há
sequer remota indicação ou menção oculta a arrependimento. Nada.
Ascânio-Globo tampouco sugerem qualquer sentimento
pelo irresponsável abismo neofascista em que o país foi lançado com sua
decisiva colaboração, e mais distante não precisamos ir do que às manipulações
realizadas durante o processo eleitoral de 2018. Nada. O artigo de
Ascânio-Globo também emudece quanto a tragédia nacional derivada da aplicação
do projeto econômico de Guedes que abalroa o presente e impede o futuro da
nação. Nesta medida parece claro que o artigo de Ascânio-Globo apenas acena
para a esquerda para tentar construir uma estreita ponte apta para salvar a
existência da empresa, mas não abre perspectivas para alteração na política
econômica que permita desconstruir as condições de objetivação do genocídio da
população brasileira.
Neste artigo a Globo apresenta, novamente,
exclusiva preocupação com os seus interesses econômicos, mas em nenhum caso com
o país, nada. A empresa se arroga a posição pública de conclamar “perdão”
para o PT pois, assim, sugere, seria possível “pavimentar caminhos pelos quais
se chegar ao objetivo comum de paz e prosperidade”. Perderam completamente
a noção, indubitavelmente, perderam, pois enquanto não ocorrer travamento
definitivo e substituição da política genocida de Paulo Guedes sustentada pelo
bolsonarismo-militarista, então, não será possível nem remotos sinais de paz
nem de prosperidade, tal como aponta o artigo da Globo em seu desfecho. O
artigo dos Marinho é aceno à esquerda que vem recheado com subliminar pedido de
socorro, mas também acompanhado da arrogância típica da elite brasileira, que
mesmo quando está sob extremo risco, não quer comportar-se relativamente ao
outro, o povo, como um igual. Lula não tem o hábito de subir no primeiro ônibus
que passa. A Globo terá de apresentar-se outras tantas vezes, e se é que
realmente aspira sobreviver, precisará realizar movimentos profundos, conhecer
atos de genuflexão inusitados, incluindo abrir mão de Guedes e qualquer
sucedâneo de mesma estirpe. Acaso não o faça será triturada à luz do meio-dia.
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