O golpe civil-militar de 1964-1985, ainda tem sido “renegado”
por muita gente que o apoiou, mas esta envergonhada. Alguns até se auto-intitulam
com “um sou de esquerda”, mas nunca foi visto em ou por algo que caracterize essa
opção político ou dimensão ideológica.
Também, no golpe civil-militar de 2016, ainda em
curso, e batizado a data da sua iniciação na Câmara Nacional de “Dia da Infâmia”,
pela Presidenta Dilma Vana Rousseff, mais cedo do que se esperava já começa
também a conhecer os seus aparentes ou supostos “renegadores”.
Os renegadores, que após plantarem e colherem a
destruição geral e irrestrita das dignas condições vida, dizem-se enganados ou
arrependidos.
“Todo cuido é pouco com essa gente”, diz Frei
Leonardo Boff em suas lições de ética, solidariedade e dignidade.
O filiado ao Partido Socialismo e Liberdade, no Rio
de Janeiro, um dos autoexilados pelo golpe de 2016, Jean Wyllys, já caiu em
campo para desmentir apoiador e renegador da destruição que o golpe provoca e
ainda provocará.
A matéria foi publicada pelo portal Rede Brasil Atual, que trata as questões sob a ótica dos trabalhadores e das trabalhadoras. A seguir você poderá refletir sobre o texto de
Wyllys: “Jean Wyllys acusa José Padilha de mentiroso e de tentar salvar reputação
Em
resposta a artigo em que Padilha pede desculpas por ter se enganado com Sergio
Moro, ex-deputado do Psol diz que cineasta pratica desonestidade intelectual
após ajudar a eleger governo fascistaWyllys (à direita) a Padilha: ninguém escapa ao julgamento da história
São Paulo – O ex-deputado federal do Psol Jean
Wyllys, que abdicou de assumir novo mandato na Câmara e se impôs um auto-exílio
em decorrência de uma onda de ameaças que vinha sofrendo, escreveu um duro
artigo endereçado ao cineasta José Padilha. No texto, Wyllys chama o diretor de
Tropa de Elite e da série O Mecanismo,
da Netflix, de "mentiroso".
"Se o cineasta José Padilha não conseguiu ser
honesto intelectualmente em sua série O Mecanismo, apesar de ter, à sua
disposição, todas as informações verdadeiras, os fatos históricos e
interpretações sofisticadas da crise política e institucional brasileira (...)
se conseguiu produzir uma peça de propaganda antipetista que mal se distingue
das fake news e memes mentirosos construídos pela extrema-direita para
interpelar sob medida os imbecis e fascistas da classe média, por que ele seria
honesto intelectualmente agora em seu "pedido de desculpas" na Folha
de São Paulo?", questiona Jean Wyllys. "O cineasta se coloca
como alguém que esteve todo esse tempo enganado pelo ex-juiz de Curitiba, como
um pobre ingênuo que depositou sua boa fé em alguém que supunha
herói. Mentiroso!", afirma Wyllys.
O ex-parlamentar, que escreve no blog Universa, do
portal UOL, argumenta ainda que José Padilha quer apenas "salvar sua
reputação" diante do fracasso do governo fascista eleito com ajuda das
opiniões do cineasta. "Para provar (...) eu torno pública, a partir
de agora, uma história que nos envolve e, na qual, eu lhe apresentei
contestações e argumentos que deveriam servir de alguma coisa se esse sujeito
estivesse realmente interessado em entender o que se passava no Brasil à época
do impeachment de Dilma Rousseff", argumenta Jean Wyllys. Leia a íntegra do artigo
Se o cineasta José Padilha não conseguiu ser
honesto intelectualmente em sua série "O mecanismo", apesar de ter, à
sua disposição, todas as informações verdadeiras, os fatos históricos e
interpretações sofisticadas da crise política e institucional brasileira; se o
cineasta conseguiu, apesar de seu acesso privilegiado a círculos políticos e
intelectuais que lhe informavam sobre o que realmente estava em curso no país
para além do que a imprensa divulgava de modo parcial e politicamente motivado;
se apesar disso tudo, Padilha conseguiu produzir uma peça de propaganda
antipetista que mal se distingue das fake news e memes mentirosos construídos
pela extrema-direita para interpelar sob medida os imbecis e fascistas da
classe média, por que ele seria honesto intelectualmente agora em seu "pedido de desculpas"
na Folha de São Paulo?
Ao confessar publicamente que "errou" ao
acreditar na independência política de Sergio Moro, e repetir o óbvio sobre seu
"pacote anti-crime" (que este não passa de uma política que vai dar
mais poder às organizações criminosas que nascem dentro das próprias polícias
civis e militares Brasil a fora, como células cancerígenas num corpo, como uma
disfunção no interior do sistema); ao recorrer a esse estratagema, o cineasta
se coloca como alguém que esteve todo esse tempo enganado pelo ex-juiz de
Curitiba, como um pobre ingênuo que depositou sua boa fé em alguém que supunha
herói.
Mentiroso!
E para provar que ele está apenas querendo salvar
sua suposta reputação ante o fracasso e deriva fascista do (des)governo
incompetente, anti-cultura e anti-educação que ajudou indiretamente a eleger,
eu torno pública, a partir de agora, uma história que nos envolve e, na qual,
eu lhe apresentei contestações e argumentos que deveriam servir de alguma coisa
se esse sujeito estivesse realmente interessado em entender o que se passava no
Brasil à época do impeachment de Dilma Rousseff
e em levar em conta todos os pontos-de-vistas que se apresentavam na arena
pública; conteúdo que seria, no mínimo respeitado, se Padilha não estivesse,
ele mesmo, politicamente motivado e de acordo com o comportamento
antirrepublicano e antidemocrático do agora ministro da Justiça de Bolsonaro;
afinal ele sabia que se tratava de argumentos vindos de alguém honesto em todos
os seus níveis e de fora do PT.
Certo dia, abro minha caixa de e-mails e encontro
uma mensagem de José Padilha dirigida simultaneamente a Marcelo Freixo, Chico
Alencar, Wagner Moura e a mim. Nesta, o cineasta exigia que nós retirássemos o
apoio que havíamos dado à candidatura da Dilma no segundo turno das eleições de
2014, presidenta que, segundo ele, pertencia a "uma quadrilha horrorosa
travestida em partido de esquerda". Exigia mais: uma "frase
contundente" admitindo nosso "erro" como condição para nós
continuássemos a nos perceber como honestos e contrários ao que ele chamou de
"banditismo e a corrupção que estão destruindo o país".
Bom, colocarei aqui as minhas respostas a ele na
subsequente troca de mensagens que se seguiu entre nós (entre ele e eu, já que
os demais destinatários, quando não se calaram por constrangimento, foram
econômicos e elegantes em suas respostas, seguramente porque são ou eram seus
amigos pessoais); vou abrir o que eu escrevi para o diretor de filmes e séries
porque as mensagens são minhas e eu tenho o direito de fazer delas o que bem
entender, sobretudo para evitar que alguns escapem, por esperteza, ao
julgamento futuro da História – e, assim, eu mesmo me coloco sob o veredito
vindouro dessa Grande Juíza.
"Bom, agradeço muito o apreço, o respeito e
admiração. De verdade! E ressalto que falo aqui por mim (não pelo partido ou
pela bancada). De minha parte não haverá retirada alguma de apoio dado (a um
programa e a um conjunto de políticas e direitos conquistados, e não a uma
pessoa específica; não fulanizo a política) em contexto histórico e político
específicos (que deveriam ser sempre levados em conta por qualquer pessoa que
deseje um debate honesto intelectualmente sobre política). As razões daquele
apoio contextualizado foram devida e exaustivamente expostas na ocasião. De lá
pra cá, qualquer pessoa que acompanhe minimamente o meu mandato sabe que me
coloquei em oposição à esquerda e responsável ao governo que ajudei a eleger em
segundo turno. Tudo isso já estava dito naquele contexto. Logo, não retirarei
apoio algum e não direi nada que não esteja na linha do que já dissemos
publicamente (favor consultar a nota que a bancada emitiu assim que o escândalo
veio à tona). No mais, gostaria de lembrar que a quadrilha de plutocratas e
cleptocratas que assaltam as estruturas públicas há anos não é composta por
pessoas de um único partido nem pertencem a um único governo. Só para ficar num
exemplo: o plutocrata banqueiro que foi preso custeou a lua de mel de Aécio
Neves e o próprio senador integrou a diretoria da Petrobras como representante
do PSDB no governo FHC. Se quisermos passar este país a limpo de verdade; se
quisermos erradicar a corrupção que gangrena as estruturas públicas deste país,
bem como o crime organizado, não podemos aceitar a blindagem e a cobertura
seletiva por parte da chamada "grande mídia". Festejei a prisão do
senador Delcídio do Amaral (PT-MS), mas queria ter festejado a, no mínimo,
investigação do episódio em que o helicóptero do senador Zezé Perella (PDT-MG)
foi flagrado com meia tonelada de pasta de cocaína. Quero ver petistas
corruptos pagarem pelo seu crime. Mas não só eles! Quero presos e expostos
também os corruptos do PMDB (Cunha e Renan permanecem presidentes da Camara e
do Senado respectivamente); do PP e do PSDB. Não se erradica a corrupção
expondo uns e blindando descaradamente outros; ao contrário: apenas se permite
que ela seja praticada largamente por um grupo e não por outro! E qualquer
pessoa que deseje debater esse tema de maneira honesta e respeitosa terá de
sair do maniqueísmo fácil e rasteiro. Um abraço e reitero que o carinho e
admiração são recíprocos!
Jean"
Detalhe: nunca havíamos sido apresentados
pessoalmente; e eu só estava sendo polido até porque fui incluído num grupo de
pessoas que são ou eram suas amigas.
Após ele me enviar uma tergiversação em que
exaltava Moro e a Lava Jato e tratava a corrupção no sistema político
brasileiro praticamente como algo criado pelo PT, eu lhe respondi, ainda
tentando manter a fofura:
"Meu querido, estou tendendo a achar que você
a) está sacaneando com minha cara, fingindo não entender o que estou dizendo;
b) está agindo de má fé deliberada, deturpando propositadamente o que estou
dizendo desde a primeira resposta; ou c) que suas fontes de informação acerca
da cena e jogo políticos estão destruindo sua capacidade cognitiva e reduzindo
seu repertório cultural a um punhado de clichês e senso comum rasteiro típicos
dos leitores de Veja e da audiência "Homer Simpson" do Jornal
Nacional.
Não estou defendendo petistas. Não sou petista.
Nunca estive sequer filiado a qualquer partido antes do PSOL. Eu e meus colegas
de bancada e meu partido FAZEMOS OPOSIÇÃO AO GOVERNO DO PT/PMDB. Vou repetir:
NÓS FAZEMOS OPOSIÇÃO AO GOVERNO DO PT, SEJA NA CÂMARA, SEJA NOS DEMAIS ESPAÇOS
POLÍTICOS.
Qualquer consulta BÁSICA a votações,
pronunciamentos e debates feitos por nós nos espaços legislativos mostraria a
você o óbvio ululante acerca de nossa atuação – insisto em dizer que, assim
como eu respeito seu trabalho, opinando sobre seus filmes e séries apenas
depois de assistir aos mesmos, eu gostaria que você respeitasse minimamente o
meu, os nossos, antes de emitir qualquer juízo sobre ele, sobre eles!
Contudo, Padilha, ser oposição ao governo Dilma e
ao PT não significa aderir ao discursa rasteiro, senso comum é desonesto
intelectualmente que deseja tratar a corrupção – histórica, sistêmica, endêmica
e ubíqua – como uma questão meramente moral e própria de um partido e/ou de um
governo. Jamais vamos aderir a esse discurso porque ele é, além de desonesto
intelectualmente, demagógico e típico de quem não deseja de fato erradicar a
corrupção.
Quando se evoca os crimes e iniquidades praticadas
pelos plutocratas e cleptocratas do PSDB, não se pretende, com isso,
"justificar" os crimes e iniquidades praticados por petistas, mas tão
somente mostrar às pessoas (a pessoas como você em especial) que o buraco é
mais embaixo e que não venceremos a corrupção se a associarmos a apenas um
partido e um governo específicos e se a tratarmos como um problema meramente
moral. Entendeu?
A corrupção é peça-chave de um sistema de conluios
e trocas entre o grande capital (banqueiros, rentistas, mega-empresários, corporações
comerciais e complexos industriais, especuladores financeiros, conglomerados de
mídias e grandes pecuaristas) e os políticos canalhas por ele financiados –
sistema que produz desigualdades sociais e de renda terríveis, ao ponto de 1%
dos mais ricos do mundo deterem 80% de toda a riqueza por nós produzida.
Entendeu?
É por isso que não aderimos a esse discurso
rasteiro dos que transformam alguém como Sergio Moro em herói. E não aderimos
porque não vemos a vida com as lentes do maniqueísmo do cinema comercial
americano (este mesmo eivado de corrupções, recentemente expostas por hackers ao divulgarem as falcatruas da Sony).
Somos políticos no melhor sentido da palavra: agimos com discernimento,
reflexão crítica e autocrítica. Entendeu?
Sinceramente, Padilha, preocupa-me que um cineasta
tão incensado como você expresse uma compressão tão limitada e maniqueísta da
cena política. Aliás, eu agora passo a compreender porque "Tropa de
elite" é um filme que beira o elogio do fascismo (algo que você felizmente
corrigiu na sequência da franquia!).
Cara, deixe eu lhe dizer uma coisa: o inimigo é
outro!
Um abraço sincero pra você e espero um dia poder
conversar pessoalmente para que eu possa explicar melhor aquilo que não estou
conseguindo explicar por aqui.
Axé!
Jean"
Resolvi não tornar toda conversa pública por conta
das demais pessoas, nela, envolvidas, todas queridas minhas, principalmente meu
amigo Wagner Moura, que conheci quando éramos alunos da mesma Faculdade de
Comunicação (FACOM) da Universidade Federal da Bahia.
Quando do lançamento de "O mecanismo",
indignado com a desonestidade intelectual de Padilha, eu enviei a troca de
mensagens à jornalista Monica Bergamo, que pensou em fazer algo com ela, mas
desistiu. Dois dias depois, um dos destinatários me interpelava, a pedido de
Padilha, no sentido de "não tornar pública uma conversa privada".
Respeitando parcialmente essa interpelação, abri apenas as minhas mensagens
porque, de resto, estas provam minha coerência ante a falsidade e o oportunismo
de muitos nesse momento."
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2019/04/jean-wyllys-chama-jose-padilha-de-mentiroso-e-diz-que-cineasta-tenta-salvar-reputacao
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