Carta
Capital, a melhor revista semanal brasileira, traz uma ótima reportagem para a
compreensão do passeio, com dinheiro seu, feita por Aécio Neve e Cia. à
oposição golpista venezuelana. Victor Farinelli, da redelatinamerica escreve sobre
com foco em uma situação que é omitida pela na grande imprensa. Omissão que
buscar desinformar ou mesmo não informar corretamente à população. A seguir
leia a matéria que vai possibilitar a você perceber o que é uma boa informação.
"A preocupação do senador Aécio Neves e alguns
líderes da direita brasileira é legítima. Porém, é interessante constatar como
essa iniciativa anunciada de visitar os presos políticos do país é sustentada
por argumentos descontextualizados e que omitem uma situação política muito
mais complexa, da qual o principal defendido pela comitiva brasileira não é
vítima, mas sim o contrário.
Falamos de Leopoldo López – já que, dos outros três
presos políticos venezuelanos, um está em prisão domiciliar e outro já foi libertado.
Barricada organizada no município de Chacao, na
Venezuela, contra o governo de Maduro. (foto: Correo del Orinoco)
Em 2013, no mesmo dia em que Nicolás Maduro foi
eleito presidente, a oposição convocou seus eleitores a irem imediatamente às
ruas para dizer que não reconheciam os resultados – a vitória do chavismo foi
por uma diferença de votos tão pequena quanto a de Dilma sobre Aécio no ano
seguinte, talvez por isso o político mineiro se sinta tão identificado com a
direita venezuelana e sua postura.
Leopoldo López e o próprio candidato opositor
Henrique Capriles foram às câmeras pedir para as pessoas “saírem a manifestar
sua indignação”. Elas foram, e o resultado daquela noite foi a morte de oito
eleitores chavistas, a maioria moradores de favelas de Caracas, além de ameaças
com armas nas portas do canal TeleSur – conhecido por seu apoio ao governo
socialista.
As mortes não mudaram o ímpeto da oposição em
invalidar as eleições ou desestabilizar Maduro e o novo governo, mas suavizou o
discurso da maioria. Capriles foi o primeiro que passou a falar em “denunciar
sem violência”, sem se desculpar pelo ocorrido naquela noite, mas acusando o
golpe.
López não. Além de não demonstrar arrependimento
pelas oito mortes, dobrou a aposta. Criou o movimento La Salida (“a
saída”), cujo objetivo declarado era “realizar todo tipo de ato capaz de
desestabilizar o governo”, e insistia em dizer que nada iria detê-lo enquanto
não conseguisse o que o nome do movimento pedia: a saída de Maduro do poder –
pense você mesmo se qualquer semelhança com as ações contra Dilma Rousseff, por
parte da oposição ou dos movimentos que defendem o início imediato do seu
processo de impeachment, é mera coincidência.
Um vídeo de 2007 mostra que mesmo antes de lançar o
movimento La Salida, López já incentivava atos de desestabilição do
governo do então presidente Hugo Chávez, articulando grupos de estudantes
opositores a que utilizassem “mecanismos não pacíficos para poder expressar sua
frustração”.
Assim começaram a surgir as manifestações massivas,
as barricadas tanto no centro quanto nos bairros periféricos de Caracas e em
outras regiões, os tiros e as mortes. Entre 2013 e 2014, 46 pessoas foram
mortas em enfrentamentos ou barricadas, e também foram registrados 900 feridos.
Diferente do que se diz na grande imprensa brasileira, a maioria das vítimas
não é de opositores ao governo de Maduro, embora boa parte sim.
Porém, muitos chavistas também perderam a vida
naqueles confrontos, e houve um terceiro grupo de vítimas, os membros da Guarda
Nacional Bolivariana, que não são necessariamente chavistas mas morreram em
confrontos com manifestantes opositores armados.
À exceção de Antonio Ledezma, que foi acusado de
conspiração contra o governo e preso antes de ser julgado – e que agora está em
prisão domiciliar –, os demais políticos venezuelanos foram condenados por terem sido os incentivadores das
barricadas de outras formas de violência como forma de fazer política
na Venezuela. Apesar de ser esse nada nobre motivo o que os levou à cadeia,
Daniel Ceballos, Enzo Scarano – que já foi libertado – e principalmente
Leopoldo López, líder e criador do movimento La Salida, são considerados
presos políticos pela oposição venezuelana.
Em novembro de 2014, quando López, Ceballos e
Scarano já estavam presos, familiares de algumas das vítimas dos confrontos
criaram o Comitê das Vítimas das Barricadas. Embora a maioria dos integrantes
seja de familiares de chavistas, também participam parentes de opositores.
Nos conturbados tempos de hoje, porém, é preciso
lembrar que as vítimas chavistas têm o mesmo valor que as vítimas opositoras.
Para quem busca proveito político da situação, esse princípio de igualdade nem
sempre é efetivo, e quem alega isso é a porta-voz do Comitê das Vítimas, Yendry
Velásquez.
Segundo ela, o Comitê tem realizado viagens dentro
e fora da Venezuela, para tentar visibilizar sua luta, mas raramente consegue
alguma repercussão na imprensa. “Não viajamos tanto quanto elas (as esposas dos
presos) que têm dinheiro para viajar para mais lugares e por mais tempo, mas o
pior é a sensação de que quase ninguém quer escutar o que você tem para
denunciar”, diz ela, numa entrevista para o canal TeleSur.
Aécio Neves recebeu Lilian Tintori em Brasília, em
maio, visita que agora será retribuída. (foto: AFP)
A comparação é com o grupo de esposas dos quatro
presos políticos opositores, encabeçado por Lilian Tintori, mulher de López,
que já visitou os Estados Unidos, o Peru – participando do Foro de Lima, versão
neoliberal do Foro de São Paulo –, o Chile, o Panamá – durante a Cúpula das
Américas – e alguns países europeus. No Brasil, as esposas foram ao Congresso
Nacional, escoltadas pelo senador Aécio Neves, seu principal apoiador no país.
No Chile, elas tiveram uma agenda mais cheia, quase
uma semana inteira. Visitaram as casas de Pablo Neruda e alguns antigos centros
de tortura transformados em memoriais, além do Museu da Memória. Solicitaram
encontro com a presidenta Michelle Bachelet e não foram atendidas, mas
receberam o apoio de legendas como o Partido Democrata Cristão – que apoiou o
golpe de 1973, que logo se opôs à ditadura – e a União Democrata Independente –
partido símbolo do pinochetismo, criado nos Anos 80.
Em abril passado, durante a Cúpula das Américas
realizada no Panamá, os dois grupos se encontraram. As diferenças entre eles
começaram pelo fato de que as esposas dos presos participaram de muitas das
atividades programadas no evento, e o utilizaram bem para promover sua causa,
enquanto o Comitê de Vítimas das Barricadas teve que se contentar a fazer
protestos com cartazes do lado de fora – haviam recebido a confirmação do
credenciamento, mas acabaram tendo seu ingresso negado no último minuto, sem explicação
por parte dos organizadores.
Ainda assim, os familiares das vítimas continuaram
tentando encontrar os meios de comunicação para passar seu recado, mas sem
muito sucesso. Sua última jogada foi a de ir ao hotel onde se hospedavam as
esposas dos presos, onde houve finalmente um cara a cara entre Lilian Tintori e
Yendry Velásquez.
Inicialmente constrangida, Tintori tentou mostrar
que se solidariza com a causa das vítimas, dizendo que elas deveriam “unir
forças, porque essas lágrimas que vocês têm são as mesmas que eu tenho (…)
lutando por mais democracia na Venezuela, é a mesma luta”. Velásquez rebateu
rapidamente essa afirmação: “não são as mesmas lágrimas, porque o seu esposo
está vivo, o meu está morto, o seu esposo incitou a violência e graças a isso o
meu está morto, o seu esposo assumiu sua culpa no ano passado, e agora vocês
querem posar de vítima perante o mundo, e o pior é que não existe igualdade,
todos escutam a você e a mim não, a parcialidade se vê e se sente”.
Ao organizar uma visita aos opositores presos,
Aécio e a direita brasileira agem parcialmente e politicamente – também é bom
lembrar que quase todos os anos têm eleições na Venezuela, e as deste ano serão
as legislativas, cujos resultados serão cruciais para a continuidade do governo
de Nicolás Maduro.
Bom seria se o grupo de parlamentares brasileiros
surpreendesse e também se encontrasse com o Comitê de Vítimas das Barricadas,
já que o movimento também representa vítimas opositoras, mas não somente. Um
gesto que mostraria um interesse bem mais amplo sobre o quadro de violência
política que existe hoje na Venezuela. Mas, convenhamos, isso é muito pouco
provável.
Victor Farinelli - http://redelatinamerica.cartacapital.com.br/a-venezuela-que-aecio-nao-quer-ver/
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